Os gastos dos brasileiros no exterior despencaram 30%, em abril, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O montante de US$ 1,6 bilhão foi o menor em cinco anos, segundo balanço divulgado pelo Banco Central (BC) na terça-feira 26. No acumulado do ano, a queda é de 16%. Na avaliação do chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel, “há uma mudança de comportamento” dos brasileiros, cada vez menos dispostos a torrar dinheiro em viagens internacionais. Na prática, a crise econômica e a alta do dólar levaram os turistas a repensar a ida ao exterior que, em muitos casos, foi trocada por uma viagem doméstica.

A “mudança de comportamento” mencionada pelo representante do BC é bem recente. Nos últimos dez anos, as compras no exterior saltaram de US$ 4,72 bilhões em 2005 para US$ 25,6 bilhões no ano passado. O crescimento foi impulsionado pelo aumento da renda e do emprego, além da valorização cambial, que barateou as viagens internacionais. Nos últimos doze meses, no entanto, o cenário mudou radicalmente. O desempregou piorou, a renda foi corroída pela inflação, acima de 8%, e o dólar comercial subiu cerca de 35%, passando de R$ 2,20 para R$ 3,00 (o dólar turismo, comprado diretamente nas casas de câmbio, é entre dez e vinte centavos mais caro).

O impacto foi imediato nos preços dos hotéis, aluguel de carro e outros serviços que são cotados em dólar, além dos produtos adquiridos lá fora. Até mesmo as passagens áreas sofreram reajustes, embora algumas companhias estejam realizando promoções pontuais bem atraentes para determinados países. No auge da euforia econômica, durante o segundo governo Lula, milhares de brasileiros aproveitaram o dólar barato, abaixo de R$ 2,00, para realizar o legítimo sonho de viajar ao exterior. Esse movimento foi diversas vezes criticado por pessoas que consideravam “crime” o brasileiro conhecer culturas diferentes antes de visitar o próprio País – como se uma viagem invalidasse a outra.

O fato é que o bolso mais recheado e o câmbio favorável inundaram de brasileiros cartões-postais como a Torre Eiffel, o Coliseu, o Big Ben e os parques da Disney, num fenômeno parecido com o observado no início do Plano Real, há 20 anos. A crítica correta a ser feita versa sobre o mau comportamento de parte dos turistas brasileiros que, por uma questão básica de falta de educação, age lá fora como se estivesse no quintal de casa, jogando lixo no chão, furando fila em parques de diversão e usando transporte público sem pagar. Isso, independentemente da classe social.

Diante de uma nova realidade econômica, com ajuste fiscal e encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB), e suas consequências nefastas, acabou a farra das viagens e das compras no exterior, ao menos para uma parcela da população. É claro que ainda vale a pena “fazer o enxoval do bebê” ou comprar iPads e iPhones, nos Estados Unidos, diante dos preços abusivos cobrados no Brasil, mas a desvalorização cambial exige que as contas sejam feitas na ponta do lápis para ver o que de fato compensa. Para os que enxergam oportunidades na crise, passar as férias no Brasil pode ser uma experiência muito agradável e tão prazerosa quanto dar um abraço no Mickey Mouse.