14/07/2001 - 7:00
O reinado de Jader Fontenelle Barbalho no Senado acabou cedo. Afogado até o pescoço num emaranhado de denúncias de fraude e corrupção, o senador paraense de 56 anos não teve outra alternativa a não ser jogar a toalha e pedir licença. Na sexta-feira, 20, mais sisudo do que de costume, e vestindo terno bege e gravata vermelha, Jader deixou sua residência na quadra 8 do Lago Sul, área nobre de Brasília, pouco antes das 10 horas da manhã. Seu destino era o Aeroporto da Capital. No rosto, um óculos escuro escondia as profundas olheiras de quem passara a noite praticamente em claro. Auxiliado pelos senadores Renan Calheiros, líder do PMDB, e Sérgio Machado, do PSDB, ele redigiu a carta de duas páginas e meia onde tentou explicar sua licença temporária do comando da Casa. O afastamento foi uma alternativa para ganhar tempo e lutar contra a iminente cassação do seu mandato. ?Tudo isso não passa de uma campanha orquestrada para sujar minha imagem?, disse ao passar pelo portão da casa. Antes de entrar no carro oficial, virou-se para o grupo de jornalistas que o aguardava e disparou. ?As viúvas do ex-senador Antônio Carlos Magalhães estão inconsoláveis.?
Ao se afastar temporariamente da presidência do Senado, Jader praticamente selou o destino das reformas estruturais que estavam no calendário do Congresso, como a tributária e a trabalhista. O presidente Fernando Henrique Cardoso, que já não gozava de mesma força no parlamento desde a saída dos aliados de ACM da aliança governista, ficou ainda mais enfraquecido. Com a licença de Jader, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, vira o homem forte do PMDB, partido que deve deixar o governo. ?Até setembro, o Congresso vai estar em compasso de espera na expectativa da Convenção do PMDB?, diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. Acusar as ?viúvas? pelo infortúnio foi uma tentativa de Jader de politizar o escândalo de desvio de R$ 2,67 milhões em recursos públicos do Banco do Estado do Pará (Banpará) e da venda irregular de US$ 4 milhões de Títulos da Dívida Agrária (TDAs). Ao contrário do que o senador afirmou, não foi nenhum dos 593 parlamentares do Congresso Nacional que interrompeu sua trajetória em busca de poder. Ele foi atropelado por um economista. O nome do carrasco: Armínio Fraga, presidente do Banco Central. Quando a perseguição a Jader no Congresso dava sinais de que estava arrefecendo e o Ministério Público dava as costas para o caso, Fraga divulgou relatório no qual apontava as maracutaias no Banpará. O nome do senador era citado nos documentos mais de 50 vezes. O político paraense bem que tentou uma primeira manobra para se esquivar das denúncias. Usou trecho de um documento do BC de outubro de 1992, que o inocentava das acusações, para se defender. A reação de Fraga, porém, veio mais violenta. O presidente do BC mandou divulgar outra nota, desta vez de cinco páginas, desmontando a versão de inocência do senador. Jader ainda tentou repetir a estratégia, mas o tiro acabou saindo pela culatra. Na segunda tentativa do senador de distorcer as
afirmações do banco, Armínio, sem pena, deu o golpe mortal.
?O último parágrafo está reproduzido parcialmente?, disse. Não
foi a primeira vez que Fraga cruzou o caminho de Jader. Em
março deste ano, ele BC desafiou o senador a autorizar a
quebra do sigilo no inquérito administrativo que estava sendo conduzido pelo banco. Jader não permitiu.