10/07/2025 - 11:05
As ações da Embraer desabaram mais de 8% nesta quinta-feira, 11, reagindo ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na véspera, de uma tarifa de 50% para todos os produtos brasileiros enviados aos EUA.
+ Ação da Minerva cai 9,5%; empresa vê impacto de até 5% da receita
Analistas do Bradesco BBI afirmaram que a Embraer é, dentro da cobertura do setor de bens de capital, a empresa mais exposta às exportações para os EUA, com cerca de 60% da receita vinda da América do Norte.
Em nota a clientes, eles estimaram um impacto potencial de aproximadamente US$220 milhões no lucro antes de juros e impostos (Ebit) de 2025, cerca de 35% do total estimado para o ano. O prognóstico considera que a tarifa entre em vigor em agosto, o que limitaria o impacto a apenas uma parte do ano.
A Embraer afirmou que está avaliando os possíveis impactos em seus negócios da possibilidade de aumento de tarifa anunciada pelo governo norte-americano sobre os produtos brasileiros, caso o decreto se aplique à indústria de aviação no Brasil.
“Tais impactos serão abordados em nossa próxima conferência de resultados do segundo trimestre, no dia 5 de agosto”, disse em nota. “A empresa está trabalhando com as autoridades competentes visando reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”, acrescentou.
Os papéis da fabricante de aeronaves encerraram o pregão desta quinta-feira em queda de 3,7%, a R$75,32, após serem negociados a R$71,63 na mínima do dia mais cedo (-8,41%), selando o pior desempenho do Ibovespa, que cedeu 0,54%. No ano, a ação da Embraer ainda acumula um ganho de 34%.
Analistas do JPMorgan estimaram um impacto potencial de cerca de 13% na receita da fabricante brasileira de aviões.
Marcelo Motta e Jonathan S. Koutras ponderaram que a previsão assume que todas as vendas do jato Praetor (cerca de 18% da receita) são para clientes dos EUA e que o jato comercial E175 (cerca de 9% da receita) também sofreria queda de demanda.
Eles destacaram que o impacto potencial de uma tarifa de 50% sobre as exportações do Brasil para os EUA varia entre os diferentes segmentos de negócios da Embraer.
Na aviação comercial, citaram, que respondeu por 35% da receita em 2024 e 12% do Ebit, os contratos da Embraer incluem cláusulas que permitem o repasse de tarifas de importação aos clientes.
Como ponto positivo, a equipe do JPMorgan lembrou que o jato E175, responsável por cerca de 9% da receita de 2024, totalmente fabricado no Brasil, não possui concorrente certificado, o que confere à Embraer forte poder de precificação.
Na família E2, acrescentaram que a empresa enfrenta concorrência do A220 da Airbus, mas não possui clientes nos EUA.
Quanto aos jatos executivos, Motta e Koutras citaram que a montagem final ocorre em Melbourne, Flórida — os Phenoms são 100% fabricados nos EUA, enquanto os Praetors têm entre 60% e 70% de conteúdo da América do Norte, principalmente dos EUA.
“No entanto, como partes do processo são fabricadas no Brasil, esse segmento é mais impactado pelas tarifas, o que pode pressionar as margens”, estimaram no relatório enviado aos clientes do banco.
“Segundo nossos cálculos, uma tarifa de 50% sobre essas peças representaria uma redução significativa nas margens, com impacto de até 15% no Ebit dos jatos executivos no pior cenário.”
Em defesa, esclareceram que a Embraer não possui vendas diretas para os EUA nesse segmento.
Em relação ao segmento de serviços e suporte, afirmaram que as peças importadas do Brasil para atender clientes nos EUA também podem ser impactadas.
“Assumindo que 25% da receita de serviços e suporte nos EUA seja representada por importações do Brasil, o impacto estimado seria de cerca de 5% no Ebit desse segmento”, calculam.
Carnes também serão afetadas por nova tarifa e Minerva sente
As ações da Minerva chegaram a cair 9,5% nesta quinta-feira, após o anúncio de uma tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o que deve impactar os negócios da empresa líder em exportações de carne bovina na América do Sul.
Em comunicado ao mercado, a Minerva estimou um impacto potencial máximo ao redor de 5% de sua receita líquida, com base nos embarques brasileiros sujeitos à nova política de tarifas anunciada pelos Estados Unidos.
Considerando os resultados dos últimos 12 meses, a exposição consolidada da Minerva ao mercado norte-americano foi de aproximadamente 16% da receita, com o Brasil representando cerca de 30% dessa exposição, afirmou a empresa.
A Minerva ressaltou que sua estratégia de diversificação geográfica permite acessar o mercado dos Estados Unidos também por meio de operações na Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália, possibilitando “maximizar sua capacidade de arbitrar os mercados, reduzindo riscos, alavancando oportunidades e respondendo com eficiência a mudanças de cenário como essa”.
As ações da Minerva na B3 chegaram a cair 9,5% na manhã desta quinta-feira, para uma mínima de R$ 4,96 na sessão. Os papéis reduziram a queda, e encerram com perdas de 1,28%, a R$ 5,41.
Na véspera, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que tem JBS, Marfrig e Minerva entre seus associados, avaliou que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros deve impactar negativamente o setor produtivo da carne bovina e representar um entrave ao comércio internacional.
Na visão dos analistas do Goldman Sachs, as empresas de carne bovina podem ter impacto leve da nova tarifa, com a Minerva potencialmente sofrendo relativamente mais, especialmente em um contexto de expectativas de mercado crescentes antes da temporada de resultados do segundo trimestre.
Em relação à JBS, Thiago Bortoluci e Nicolas Sussmann afirmaram em relatório não ver grande risco, citando que apenas 4% do mix de vendas da empresa vem de exportações para os EUA.