A ação do Grupo Casas Bahia teve dia de forte alta nesta segunda-feira (29), com o mercado reagindo ao pedido de recuperação da empresa, que enfrenta uma forte crise e tenta ganhar fôlego para a operação. A ação subiu 34,19%, a R$ 7,30.

+ Como a Casas Bahia chegou à recuperação extrajudicial e qual o plano para a dívida

Com a disparada deste pregão, Casas Bahia ganhou o equivalente ao valor de mercado da Tecnisa. A alta elevou o valor de mercado da empresa para R$ 692 milhões. Esse aumento de R$ 176 milhões é praticamente equivalente ao valor de mercado da Tecnisa, que atualmente está em torno de R$ 178 milhões. O levantamento é de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria.

O pedido de de recuperação extrajudicial foi anunciado na noite de domingo (28), com a empresa reportando dívidas de R$ 4,1 bilhões e anunciando que já conta com apoio do Bradesco e Banco do Brasil, seus principais credores.

A dívida envolve emissões de debêntures (títulos de crédito que as empresas emitem ao mercado financeiro), e não débitos operacionais com fornecedores e parceiros. Segundo a empresa, a situação não impacta trabalhadores ou clientes.

“A disparada das ações é um reflexo imediato desse tremendo acordo e dessa tremenda renegociação de dívida”, avalia Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.

Carlos Daltozo, chefe de análise da Eleven Financial, disse que a notícia “pegou o mercado de surpresa”, mas avalia que “foi um bom caminho”. 

“É menos custoso do que uma recuperação judicial e também limita o escopo às dívidas financeiras, não impactando outros pontos que uma eventual recuperação judicial poderia afetar.”

Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, explica que “a recuperação irá proporcionar melhores condições de caixa no curto prazo, devido ao alongamento da dívida e negociações com credores”. “O mercado gostou, pois estava bastante preocupado com a capacidade de pagamento da empresa”, diz o especialista.

No entanto, mesmo com a reação positiva do mercado, ainda há pontos de preocupação, reforça Corano. “Isso não diretamente garante ou afirma que os resultados operacionais da empresa serão melhores, mas pelo menos afirma que ela tem longos anos para conseguir melhorar a operação dela.”

Apesar da alta no pregão desta segunda, a ação BHIA3 enfrenta desconfiança do mercado em meio às perspectivas sobre a empresa. Depois de despencar 81% em 2023, em 2024 até agora o papel recua mais de 40%.

Momento da empresa

O pedido se dá em um momento delicado para a companhia, que busca melhorar seus resultados enquanto o mercado se preocupa com o endividamento. No último trimestre de 2023, o Grupo Casas Bahia reportou um prejuízo contábil de R$ 1 bilhão, uma forte piora na comparação com os R$ 163 milhões negativos do ano anterior, e o sexto resultado negativo seguido.

A empresa encerrou o período com uma dívida bruta de R$ 4 bilhões, e tenta ganhar fôlego para controlar esses números com medidas como um alongamento do perfil da dívida no valor de R$ 1,5 bilhão, com 3 anos, anunciado no primeiro trimestre de 2024. Enquanto isso, Casas Bahia dá sequência em seu plano de reestruturação anunciado no ano passado, que incluiu o fechamento de lojas.

Agora, a expectativa é para saber se a reestruturação será seguida de melhora nos resultados operacionais. “Eles veem em curso. Reduziram o estoque consideravelmente, fecharam várias lojas no ano passado, mas agora com essa solução encontrada para o problema financeiro, o foco agora vai ser totalmente na operação”, comenta Daltozo.

Para Coutinho, é possível acreditar em boas perspectivas, apesar das dificuldades. “É verdade que ainda existe bastante dever de casa a ser feito, principalmente na recuperação do tráfego nas lojas e na operação de e-commerce, mas a empresa tem trabalhado para melhorar as condições financeiras da operação, principalmente com um corte de custos severo.”