18/11/2015 - 20:00
Há menos de quatro meses como presidente da Accor na América do Sul, o francês Patrick Mendes mal tem parado no escritório da empresa, localizado no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A agenda do executivo foi tomada por uma série de viagens pelos países do continente. Somente em 100 dias como CEO, Mendes peregrinou por Argentina, Bolívia, Colômbia, Peru e Chile. Esses deslocamentos têm um motivo especial. Ele está transmitindo aos parceiros da região os detalhes do novo plano de expansão da companhia.
Segundo Mendes, a Accor vai dobrar a sua participação na América do Sul e alcançar 500 hotéis abertos até 2020, 80% deles no Brasil. “Como iniciamos as operações em 1977, vamos crescer 40 anos em 4”, afirma o CEO. Para chegar a esse número, a rede hoteleira investirá R$ 8 bilhões nos próximos quatro anos. Essa ofensiva ocorre em um momento delicado para o setor: a ocupação dos hotéis recuou para 64%, segundo a consultoria Jones Lang Lassalle. É o mesmo nível de 2008, ano que marcou o início da crise mundial.
A própria Accor, que faturou R$ 2,2 bilhões em 2014, prevê recuo de 7% em sua receita neste ano. “Mesmo assim, nossa plano é totalmente factível e, de certa forma, conservador”, diz ele. “Enxergamos potencial e queremos ser referência no continente.” O que explica o otimismo da Accor é que a crise também traz oportunidades às redes hoteleiras. O câmbio atual, ao mesmo tempo em que desencoraja os brasileiros a viajar ao exterior, torna o Brasil mais barato para visitantes estrangeiros. Além disso, a crise ajuda a baixar preços de imóveis e terrenos, o que incentiva novos investimentos.
Atualmente, a Accor conta com 255 estabelecimentos na região e pretende encerrar o ano com 270. “Nós enxergamos um hotel da Accor em quaquer cidade do continente que tenha mais de 200 mil habitantes”, diz Mendes. Para isso, alguns planos foram traçados. O primeiro deles foi o estreitamento da relação entre a Accor e os seus parceiros. Outra diretriz estratégica é focada em algo que vem fazendo bastante sucesso na região. A Accor quer ampliar a participação dos clientes que usam o seu plano de fidelidade, o Le Club.
Com o seu próprio plano, a empresa tenta conter o avanço de sites de comparação de preços, como o Trivago e o argentino Decolar.com, além do site americano de locação de imóveis Airbnb, que aumentam a concorrência entre os hotéis e derrubam suas margens. E deu resultado. Hoje, 40% dos hóspedes na América do Sul são cadastrados no programa, que faz reservas online, dá descontos nas diárias, entre outros benefícios. A meta da Accor é alcançar 55%. “É a maior taxa em nível mundial”, diz.
Por último, a Accor tem reformulado algumas de suas bandeiras para trazer mais personalização aos seus hotéis e, consequentemente, conseguir boas notas em sites como o TripAdvisor. A Ibis Styles é um exemplo disso. Quartos com decorações descoladas e inspiradas em personagens como o poeta Carlos Drummond de Andrade e os heróis do filme Os Vingadores, da Marvel, podem ser encontrados nas capitais paulista e mineira. De acordo com Mendes, para incentivar o melhor serviço, as bonificações dadas aos franqueados ou gestores dos hotéis serão intimamente ligadas à avaliação dos consumidores.
Para concretizar todas as estratégias, a Accor não precisará tirar todo o dinheiro do bolso. Como a maioria das redes hoteleiras, a empresa vai focar suas aberturas em franquias e em conversão de hotéis já existentes para alguma das suas 16 bandeiras próprias, entre elas o Ibis, Mercure, Pulman Adagio e o luxuoso Sofitel. Em ambas as situações, investidores independentes custeiam todo o projeto e cabe à Accor apenas administrar o hotel. Mendes, contudo, não descarta aquisições, mas não revela a quantia destinada a elas. Especialistas ouvidos pela DINHEIRO estimam que a empresa aportará menos de 10% do valor anunciado.
“Até como uma forma de dar segurança aos investidores, a Accor tem a cultura colocar próprio capital”, diz José Ernesto Marino, presidente da consultoria BSH International. Não é só a Accor que tem olhado para o País em crise. Ofensivas como a da rede americana Marriott, que investirá R$ 400 milhões na abertura de 11 novos hotéis, e a chegada da canadense Four Seasons, do segmento de luxo, mostram que os estrangeiros veem potencial no mercado brasileiro. “Vamos abrir nosso primeiro hotel em São Paulo até 2017”, diz Alínio Azevedo, vice-presidente de desenvolvimento da Four Seasons. “Ainda enxergamos espaço para mais três unidades.”