14/10/2009 - 7:00
Deutsche Bank: Número de obras: 53 mil Composição do acervo: trata-se de um dos maiores acervos corporativos do mundo. O banco alemão investe em desenhos de jovens talentos desde 1979. A coleção, composta em sua maioria por desenhos e fotografias, reúne artistas importantes como Andy Warhol e o alemão Gerhard Richter, autor do Quadro Abstrato (foto), conhecido por sua arte pop
Quem passa em frente ao Museu de Arte Contemporânea, no parque do Ibirapuera, em São Paulo, fica intrigado com a exposição em cartaz. No lugar de um grande nome como Picasso, Dalí ou Miró, a chamada é para uma mostra cujo destaque fica com uma empresa: a montadora francesa Renault, dona de um acervo com 300 peças entre telas, fotografias e esculturas, e que trouxe a sua coleção para ser vista pelos brasileiros. Apesar de, num primeiro momento, soar estranho, é cada vez mais comum ver obras de arte nas mãos de companhias privadas. São acervos corporativos dignos de dar inveja a muito museu por aí. Não é à toa que a Pinacoteca do Estado de São Paulo mantém em cartaz até novembro a exposição O cubismo e seus entornos nas coleções da Telefônica. O Museu de Arte de São Paulo (Masp), por sua vez, traz uma coleção de fotografias do americano Walker Evans. O dono: a Fundación Mapfre, instituição mantida pela seguradora que leva o mesmo nome. Some-se a elas, outras empresas multinacionais e brasileiras como Femsa, Itaú,BMF&Bovespa e Deutsche Bank, que possuem vastos acervos (ver quadros). Cabe, diante desse fenômeno, uma pergunta. Por que essas empresas têm tantas obras de arte?
Mapfre: Número de obras: 3 mil Composição do acervo: a empresa possui uma coleção de desenhos da primeira metade do século 20, com gravuras de Matisse e Picasso. É também dona de uma coleção de fotografias históricas, que inclui nomes como o do fotógrafo americano Walker Evans, autor da imagem Rua Principal, Saratoga Springs, de 1931 (foto), mestre da fotografia documental
O início de uma coleção se deve aos mais diversos fatores. No caso da mexicana Femsa, por exemplo, a formação do acervo começou no final da década de 70, quando alguns museus do México estavam em dificuldades financeiras. Foi a deixa para a construção de uma das maiores coleções de telas latino-americanas. A Renault, como uma espécie de mecenas, começou financiando artistas na década de 60 e em troca pedia algumas obras. Hoje a empresa não investe mais em arte, mas tem um acervo de arte contemporânea que dificilmente poderia ser comprado hoje.
“Investir em arte tornou-se parte da estratégia de responsabilidade social da empresa”, conta Liz Christensen, curadora do acervo do Deutsche Bank, um dos maiores do mundo com mais de 53 mil itens. Um acervo, é bom salientar, que cresce aceleradamente. Afinal, a instituição financeira mantém um orçamento anual de cerca de 20 milhões de euros para a compra de obras de arte. Para se ter uma ideia da dimensão do acervo do banco, basta comparar com os de respeitados museus. A coleção do Deutsche Bank é seis vezes maior que a do Masp, com oito mil peças, e dez vezes maior do que a da Pinacoteca, com cinco mil exemplares.
Renault Número de obras: 300 Composição do acervo: a coleção é fruto de investimentos, realizados entre 1967 e 1985, em artistas contemporâneos. Dentre as peças que chamam à atenção, os destaques ficam com as do islandês Erró, autor da tela Remplacement du Lanceur (foto), e as do francês Jean Dubuffet. A empresa conta também com uma coleção de fotografias de Robert Doisneau
Telefônica: Número de obras: 80 Composição do acervo: a empresa possui um dos mais respeitados acervos cubistas do mundo, com nomes de peso como o do mexicano Diego Rivera e o espanhol Juan Gris, autor do quadro Arlequim (foto). A Telefônica também premia novas obras que retratem a arte e a tecnologia e ainda possui uma coleção de fotografias históricas realizadas entre 1924 e 1930
Itaú Unibanco Número de obras: 3,6 mil Composição do acervo: com foco na arte brasileira, possui obras de Di Cavalcanti como Trabalhadores (foto), Lasar Segall, Victor Brecheret, além dos contemporâneos Adriana Varejão, Nelson Leirner e Vik Muniz. Há também uma coleção de moedas com sete mil itens e 2,1 mil documentos e livros raros
A escolha das peças é minuciosa e, assim como fazem os museus, as empresas contratam curadores para gerir e escolher as obras que serão adquiridas. “O objetivo é sempre cultural, pois investir em arte promove a empresa”, afirma João Carlos Lopes dos Santos, consultor do mercado de arte. Com tantas peças nas mãos, as empresas acabam criando instituições só para administrar o acervo e, de quebra, estreitam relacionamento com seus clientes. A BMF&Bovespa inaugurou, em 2002, um espaço cultural, em São Paulo, no qual suas obras são expostas periodicamente. Já o Itaú Unibanco criou o Itaú Cultural para cuidar de seu acervo há mais de 20 anos. Tudo isso, dizem seus representantes, é feito sem visar o lucro. Em momentos de crise, entretanto, são ativos de valores quase inestimáveis.
Femsa Número de obras: 1.000 Composição do acervo: a empresa mexicana, maior engarrafadora de Coca-Cola do mundo, focou seu acervo na produção latino-americana. A companhia iniciou a coleção em 1977 e possui obras de Frida Khalo, do brasileiro Iberê Camargo e da britânica Leonora Carrington, autora da tela Step Sister’s Hen or Marigold, Marigold, Tell Me Your Answers Do (foto.)
BMF&Bovespa Número de obras: 187 Composição do acervo: formado majoritariamente por obras brasileiras, o acervo da bolsa possui nomes como Portinari, Di Cavalcanti, Benedito Calixto, autor do quadro Porto de Santos (foto), e Anita Malfatti. Apesar da maioria das obras estar localizada em vários ambientes do prédio da bolsa, a instituição possui um espaço cultural que abriga exposições