25/01/2012 - 21:00
“Torre Marte: Papa Papa Bravo Índia Sierra solicita acionamento do hangar Tucson para destino final.” Diálogos como esse fazem parte da rotina do empresário paulistano Wagner Bartoli Silva. Todos os dias ele vai de sua casa, na zona norte de São Paulo, até a pista do Campo de Marte. Lá, ele assume o comando de seu helicóptero modelo Robinson 44 e pilota até sua empresa, que fica às margens da represa Billings, na zona sul da capital. O trajeto de 30 quilômetros levaria duas horas por automóvel, mas Bartoli chega ao trabalho apenas sete minutos após a autorização da torre de controle para decolar – solicitada com a frase acima.
Em busca dessa mobilidade e da possibilidade de passar por cima do tráfego paulistano, mais e mais empresários e executivos estão alugando ou dividindo o uso de helicópteros. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), existem 1,7 mil helicópteros em todo o País, 400 só na capital paulista. Esse grupo inclui um crescente mercado executivo. “Logo teremos congestionamento de aeronaves”, diz Bartoli. Deslocar-se de helicóptero é o desejo de todos os motoristas que enfrentam os mesmos congestionamentos dia após dia.
É um sonho caro. Um aparelho, ainda que usado, não custa menos de R$ 500 mil, mais custos que podem chegar a R$ 27 mil por mês. No entanto, é possível reduzir essa fatura, comprando uma “fatia” da aeronave. Rogério Andrade, presidente da empresa paulista Avantto, que oferece aeronaves compartilhadas, diz que é possível adquirir o direito de uso de um helicóptero por dez horas por mês por cerca de R$ 106 mil, mais custos mensais de R$ 5,5 mil que incluem os gastos com pilotagem, combustível, hangaragem e manutenção. Esses preços valem para um Robinson 44, com capacidade para três passageiros.
No entanto, se o candidato a aeronauta quiser modelos maiores e mais luxuosos, como um Agusta igual ao utilizado pelo empresário Abilio Diniz, o custo, sem trocadilho, vai às alturas e sobe para R$ 2,7 milhões, mais despesas mensais de R$ 40 mil. Segundo Artur Reno, gerente de vendas da fabricante Helibras, só vale a pena ter uma máquina própria se o uso ultrapassar 25 horas de voo por mês. A velocidade média de um helicóptero é de 200 a 350 quilômetros por hora. É possível viajar entre os aeroportos de Cumbica e Congonhas, distantes 36 quilômetros, em sete minutos. “Para necessidades esporádicas, é mais negócio fretar um táxi aéreo, que custa R$ 3 mil por hora”, diz Reno.
Segundo ele, muitos clientes começaram a voar de maneira a reduzir o tempo de percurso entre a capital e suas casas de campo, mas 80% deles já se renderam à comodidade dos voos também a fim de ir para o trabalho. No ano passado, a Helibras vendeu 33 aeronaves novas para a aviação civil, em sua maioria do modelo Esquilo, usado pela Polícia Militar de São Paulo. O custo de cada máquina gira em torno de R$ 5,4 milhões e o de manutenção cerca de R$ 30 mil por mês. Segundo Reno, o grosso da demanda vem de empresários do interior paulista que querem deslocar-se rapidamente de suas fábricas para a capital, e de empreendedores da construção civil, que procuram terrenos.
“A demanda está tão alta que tivemos de montar oficinas de manutenção em todas as capitais do Brasil”, diz ele. “A fila de espera por um helicóptero novo é de 15 meses.” Quem não quer esperar tanto pode comprar uma aeronave usada, mercado que está muito aquecido. “A crise na Europa e nos Estados Unidos vai permitir a importação de muitas máquinas a preços competitivos”, diz Ricardo Gobbetti, presidente da Global Aviation, empresa paulista de táxi aéreo e comercialização de máquinas voadoras. “Os preços vêm caindo desde a crise de 2008, e máquinas grandes como Agusta e Super Puma devem tornar-se mais acessíveis, especialmente com a valorização do real em relação ao dólar”, diz ele.