23/01/2008 - 8:00
Se você é um investidor de longo prazo na bolsa de valores, deve estar convencido que é melhor sentar-se sobre a carteira de ações, ignorar o sobe-e-desce diário do mercado e usufruir dos dividendos pagos pelas empresas ao longo do tempo. Mas isso não quer dizer que seus ganhos devem ser estáticos. Melhor que deixar os papéis bem quietinhos é conseguir uma rentabilidade a mais por eles. Por isso, milhares de investidores buscaram o aluguel de ações na Bovespa no ano passado. Essas operações, que antes eram tímidas, explodiram e movimentaram R$ 272,4 bilhões, com um crescimento de 148,5% em relação a 2006.
Por meio do Banco de Títulos da Bovespa, o BTC, o dono de uma ação pode alugá-la por um prazo determinado. Ao final do período, ele recebe o papel de volta e, junto com ele, a devida remuneração. Normalmente, quem toma as ações são gestores de investimentos que precisam de munição para operar no dia-a-dia, montando posições rápidas de compra e venda. O valor do aluguel depende da demanda pela ação. Em 2007, a taxa média anual ficou em torno dos 4%. Parece pouco, mas é um ganho líquido que o investidor de longo prazo tem para melhorar seus rendimentos em geral. E, conforme o papel, os retornos são ainda maiores e superam os 30% ao ano, caso da Telebrás PN e da Cosan ON (leia quadro).
A negociação no BTC é simples, mas exige a intermediação de uma corretora. Elas informam ao cliente quanto o mercado está pagando pelo empréstimo das ações que ele tem em carteira. Nessa operação, a taxa de corretagem não é cobrada. Se preferir, o investidor pode determinar quanto quer receber. Se a oferta for inferior, a corretora busca sua autorização para fechar a operação. No período em que o papel fica alugado, o dono original não perde as bonificações pagas pelas empresas aos seus acionistas. ?Além do retorno, os dividendos e os juros continuam garantidos e são depositados na conta do doador?, afirma Wagner Anacleto, diretor- adjunto da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), ligada à Bovespa. Ao final do período, o investidor recebe o pagamento da taxa anual de retorno conforme os dias da operação.
Do ponto de vista da propriedade das ações, o aluguel não oferece riscos para quem empresta. A CBLC garante a devolução do papel. A ação só é liberada para empréstimo a tomadores que ofereçam garantias. A desvantagem, para o investidor, é não poder vender a ação durante o período do contrato, que tem período inicial de 30 dias, em média. Se o preço do papel subir muito e ele decidir vender, vai ter de esperar o final do contrato. ?Os riscos existentes são os de mercado. Se a ação subir nesse período e o doador quiser vender, não tem como?, diz Paolo Mason, diretor de atendimento da Win Home Broker, da Alpes Corretora. Por isso, o conselho é não ofertar para aluguel ações que você venderia em caso de grande oscilação de preços no curto prazo. ?O empréstimo de ações só é interessante para os papéis que o investidor vai manter no longo prazo?, diz César Lopes, gerente de operações Bovespa da SLW Corretora.