Os olhos atentos de um dos maiores personagens da política brasileira estiveram encobertos na segunda-feira 13, pelas lentes sofisticadas de óculos Chanel modelo 4005. Os fotógrafos e cinegrafistas que dão expediente no Congresso Nacional duvidaram da cena e demoraram a reconhecer o homem por trás das lentes escuras. Era o cacique baiano Antônio Carlos Magalhães, líder do PFL e presidente do Senado. Mas como? ACM de Chanel? Nos meios políticos, houve quem dissesse que ele estava utilizando uma peça mais ao gosto dos tucanos. ACM apressou-se em desfazer qualquer equívoco: ?Botei os óculos apenas para que fotógrafos e cinegrafistas tivessem uma imagem diferente?. Quem gostou mesmo do gesto de vaidade do senador foram os executivos da subsidiária brasileira do Grupo Luxottica. A filial da gigante italiana, líder mundial deste segmento, não contava com a promoção voluntária. Acostumada a ver seus óculos nos rostos de astros do calibre de Richard Gere, Tom Cruise, Harrison Ford, Brad Pitt e Nicole Kidman, os dirigentes da companhia receberam com um largo sorriso o novo garoto-propaganda. ?Ganhamos uma mídia espontânea feita por uma personalidade que é conhecida pelo gosto refinado?, comemora Marcelo Amaral, coordenador de marketing da multinacional no País.

A Luxottica possui cinco fábricas na Itália, que produzem Bulgari, Chanel, Armani, Vogue, Web, Salvatore Ferragamo, entre outras marcas. No ano passado, adicionou ao portfólio do grupo um dos ícones da cultura pop americana, a grife Ray-Ban. Pagou US$ 640 milhões. Ao todo, são 28 subsidiárias espalhadas pelo mundo que somam vendas anuais de US$ 2,2 bilhões. No Brasil, a filial começou a operar em 1992.

O desembarque foi precedido de um rigoroso estudo de mercado, que levou em conta o potencial de consumo e a penetração desses acessórios de luxo. ?O Brasil tem um papel estratégico em nosso projeto de expansão?, explica o executivo Amaral. Na prática, isso significa que as 750 coleções lançadas a cada ano chegam simultaneamente em centros da moda como Paris, Nova York, Roma, Londres, Rio e São Paulo. Os números envolvendo a operação brasileira são guardados a sete chaves. O único valor conhecido é o dos óculos de ACM. O modelo, que integra a coleção New Chic, custa R$ 680,00. Não foi o caso do senador. Ele não gastou um centavo com o acessório. Foi um presente da amiga Eliana Tranchesi, dona da refinada butique Daslu ? lugar, aliás, onde ACM compra seus bem cortados ternos. A elegância discreta do cacique, que surpreendeu a capital federal, não causa espanto aos baianos. Em Salvador, é comum vê-lo usando este Chanel ou um modelo da Gucci. Quem disse que ele não gosta de grife?

Colaborou Ricardo Osman