21/08/2002 - 7:00
Dois movimentos estão agitando o mundo siderúrgico. Um é público e foi anunciado com toda a pompa na terça-feira 13. Foi quando o empresário Jorge Gerdau Johannpeter revelou a fusão de suas empresas na América do Norte com a americana Co-Steel. A operação, de US$ 1,7 bilhão, colocou o empresário gaúcho à frente de um dos três maiores grupos de aço dos Estados Unidos, um colosso com quase cinco mil empregados e produção anual de 7 milhões de toneladas. Há um detalhe ainda mais importante: o grupo Gerdau, agora na dianteira do maior mercado consumidor do mundo, ficou totalmente imune às barreiras protecionistas do governo George W. Bush. ?Estamos liderando a consolidação da siderurgia americana?, disse Gerdau, que terá 74% da nova empresa, à DINHEIRO (leia sua entrevista ao lado). O segundo movimento, não menos importante, vem sendo tramado em silêncio. Inclui grandes grupos empresariais e bancos de investimento. O projeto até já ganhou nome. Foi batizado pelos executivos envolvidos de ?Usibrás?. O resultado final dessa articulação seria a fusão entre Usiminas, Cosipa e Companhia Siderúrgica Nacional numa só empresa. Na prática, se a estratégia vingar, acabará evitando a concretização da associação entre a CSN e o grupo anglo-holandês Corus, anunciada no dia 17 de julho, mas que ainda não foi formalizada — está sob análise dos credores. Para os envolvidos nas negociações, o projeto Usibrás seria uma forma de manter o controle da usina de Volta Redonda, um ícone da era Vargas, em mãos nacionais.
A estratégia de criação da Usibrás passa por duas etapas. A primeira é tentar barrar a associação da CSN com a Corus, um negócio que ainda depende do aval dos credores da Vicunha. A Vicunha, do empresário Benjamin Steinbruch, carrega o peso de uma dívida de US$ 600 milhões, em poder essencialmente de quatro instituições: BNDES, Bradespar, Unibanco e BBA. Em garantia, foram dadas ações da CSN, que, pela proposta de Steinbruch, seriam trocadas por papéis da holding Corus/CSN. DINHEIRO ouviu dois dos grandes credores, que apostam que a operação será vetada. Seria o suficiente para impedir o negócio. Há algumas razões por trás da oposição dos bancos. Hoje, a dívida da Vicunha vem sendo paga com os dividendos gerados pela CSN. No caso da Corus, uma empresa há três anos em prejuízo, e geração de caixa quase nula, os credores não têm a mesma certeza. Além disso, as ações do grupo anglo-holandês caíram mais de 25% desde o anúncio da associação, tornando ainda mais remota a aprovação. O negócio também desagrada a Vale do Rio Doce, que hoje compra os excedentes da mina Casa de Pedra, um dos principais ativos da CSN, em condições favoráveis. Por último, há ainda resistências de ordem nacionalista. A Agência Brasileira de Inteligência, do general Alberto Cardoso, produziu um relatório interno criticando a operação. Alega-se que a siderurgia, um dos poucos setores em que o Brasil é competitivo mundialmente, não pode ter seu centro de decisão transferido para o exterior. Se o projeto Usibrás se concretizar, o maior vitorioso será o empresário Rinaldo Campos Soares, que preside a Usiminas. Sua empresa teria um papel central na nova holding, que seria uma grande multinacional brasileira do ramo siderúrgico. Na última semana, os produtores nacionais também receberam uma outra boa notícia. Os Estados Unidos atenderam um pedido do Instituto Brasileiro de Siderurgia, ampliando em 500 mil toneladas as cotas para as exportações nacionais.
?Quero ser o melhor?
O empresário Jorge Gerdau Johannpeter está à frente da maior multinacional brasileira. Seu grupo fatura
US$ 4 bilhões anuais, dos quais
US$ 1,7 bilhão no exterior. Depois de fundir-se com a Co-Steel, nos Estados Unidos, ele falou à DINHEIRO.
Por que o sr. uniu-se a uma siderúrgica americana?
Nosso foco é a rentabilidade. Não faço uma fusão para ser o maior. Quero ser o melhor, formando uma multinacional brasileira com excelência mundial. Já éramos fortes no Canadá e em alguns Estados americanos. Com a Co-Steel, fortalecemos nossa posição em regiões estratégicas como Nova York e Toronto.
O sr. escapa, assim, do protecionismo americano?
Na verdade, a curto prazo, a proteção até nos ajuda, porque já faturamos US$ 1,7 bilhão na América do Norte. Somos os maiores na produção de vergalhões. Mas temos a consciência de que essa proteção é temporária. Irá vigorar apenas durante o tempo necessário para que seja feita a reestruturação da siderurgia americana. É um processo irreversível.
A Gerdau vai priorizar investimentos fora do Brasil?
Não. Já temos uma posição confortável nos EUA e no Cone Sul. Todas as empresas receberão investimentos.
Como o sr. vê a escassez de crédito que afeta
a economia brasileira?
Nossas ações visaram reduzir o risco da companhia e os custos de financiamento. Mas o que se vê hoje no Brasil é uma situação temporária. O acordo com o FMI cobre todo o período da transição política. Além disso, o compromisso dos candidatos será vital para que as linhas de crédito sejam reabertas. Isso acontecerá logo.