Por Howard Schneider

WASHINGTON (Reuters) – O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, questionado na quarta-feira sobre o que o Fed faria no caso de um calote da dívida dos Estados Unidos, repetiu o mantra dos líderes do banco central norte-americano sobre o assunto: um calote é impensável, o governo norte-americano precisa pagar suas contas e seria pouco o que a autoridade monetária poderia fazer para evitar um colapso econômico caso isso ocorra.

“Ninguém deve assumir que o Fed pode realmente proteger a economia, o sistema financeiro e nossa reputação globalmente dos danos que tal evento pode infligir”, disse Powell.

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Não foi dito, no entanto, que há pouco mais de sete semanas Powell mostrou, novamente, como está disposto a ultrapassar os supostos limites do banco central dos EUA se o momento exigir.

Como membro do Conselho de Governadores do Fed há uma década, Powell chamou certas possíveis respostas do Fed à inadimplência da dívida de “repugnantes”. No entanto, após a falência do Silicon Valley Bank em 10 de março, o banco central tomou medidas que se assemelham ao que também poderia fazer com o calote da dívida norte-americana — concordando em aceitar títulos depreciados, pelo valor de face, como garantia em empréstimos a bancos.

A medida quebrou uma máxima de longa data do banco central de que as garantias são aceitas apenas com valor reduzido para minimizar os riscos morais e financeiros de oferecer tais empréstimos. Mas também ajudou a conter possíveis turbulências financeiras na suposição razoável de que o governo dos EUA acabaria pagando o valor total de seus títulos e dívidas do Tesouro, mesmo que, por um tempo, fossem negociados abaixo do par.

Aceitar títulos inadimplentes como garantia para empréstimos do Fed, ou trocar dívidas federais “boas” já detidas pelo Fed por dívidas prejudicadas mantidas por investidores privados, seria uma variação extrema da medida — mas que pode ser menos “repugnante” do que a alternativa que alguns preveem de um colapso econômico que seguiria ao calote.

Para um banco, realizar investimentos “subaquáticos” pode ser catastrófico, como demonstrou o recente colapso do Silicon Valley Bank. Para um banco central, sem restrição orçamentária e com horizonte de tempo elástico, é só esperar os políticos agirem.

Powell, chair desde fevereiro de 2018 depois de ter sido promovido pelo então presidente Donald Trump, tem mostrado uma vontade repetida de deixar de lado velhas práticas quando sentiu que era necessário — até observando, em entrevistas no início da pandemia, que havia superado proteções tradicionais quando o Fed, por exemplo, concordou em intervir nos mercados de títulos privados.

Ele pode não pensar que os bancos centrais, em teoria, deveriam comprar títulos de empresas privadas, mas, se a alternativa fosse uma profunda depressão econômica, a pureza poderia esperar.

Na véspera do que seria um surto de inflação perturbador, Powell, no verão de 2020 (no Hemisfério Norte), adotou um esforço de anos para mudar o foco da política do Fed para colocar menos peso em seu mandato de preço e mais em sua meta de pleno emprego, corrigindo o que ele passou a acreditar ser um viés de política que manteve mais pessoas desempregadas do que o necessário para manter a inflação estável.

O julgamento provou ser controverso quando a inflação começou a disparar em 2021. Powell se adaptou, novamente, liderando uma rodada agressiva de aumentos nos juros para controlar a inflação e declarando sua disposição de pagar o custo conforme necessário no aumento do desemprego.

Um calote da dívida pode representar outra decisão difícil para um chair do Fed, cujo lema pode muito bem ser nunca dizer nunca.

(Por Howard Schneider)

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