A estratégia adotada pelo megainvestidor paulista Luiz Barsi Filho no início de julho foi extremamente ousada. Numa época em que papéis de bancos desabavam, ele disse à DINHEIRO que estava comprando grandes quantidades de ações do Banco do Brasil (BB). ?Comprei quando o papel estava a R$ 22?, afirmou. Naquele momento, cotadas a cerca de R$ 20, as ações amargavam uma queda de 15% desde o fim de 2012. Além do baixo preço, Barsi estava de olho nos proventos. Com razão. Até 30 de agosto, o BB pagou R$ 1,99 por ação, somando-se dividendos e juros sobre o capital próprio, e as expectativas do mercado são de um pagamento adicional de R$ 0,40 antes do início de 2014. Além do rendimento polpudo, Barsi comemora a alta de 22,5% no terceiro trimestre, encerrado na segunda-feira 30. Na média, as ações dos quatro grandes bancos de varejo listados em bolsa ? BB, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander ? subiram 12,5% no trimestre, acima dos 10,3% da média do mercado. Segundo os analistas, há espaço para mais crescimento. ?As ações desses bancos podem superar a casa dos 30% de valorização neste ano?, diz João Augusto Salles, sócio da consultoria carioca Lopes Filho.

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Segundo Salles, as ações de bancos haviam caído em decorrência da pressão exercida pelo governo, através dos bancos públicos, para baixar os custos do crédito no início do ano. Os lucros das instituições privadas recuaram e, com eles, as cotações. Essa é, porém, apenas parte da explicação. A inadimplência permanece elevada. Segundo dados do Banco Central (BC), em agosto, o calote total representava 3,3% dos empréstimos. Apesar de abaixo do pico de 3,7% registrado há seis meses, a inadimplência ainda é expressiva. Nesse cenário adverso, como explicar o brilho dos bancos na bolsa? Há dois motivos. Um deles tem a ver com a política monetária. Depois de um longo período de baixa, o BC começou a elevar os juros para conter a inflação, e os prognósticos são de que esse movimento continue por mais algum tempo. Juros em alta reduzem a pressão sobre as margens de lucro dos empréstimos e melhoram os resultados. 

 

?Isso ajuda os bancos a emprestarem e a ganharem mais, o que valoriza as ações?, diz Salles. O outro motivo é o aumento dos negócios. Segundo o BC, nos 12 meses até agosto, o volume total de crédito na economia aumentou 16,5%, para R$ 2,5 trilhões, um novo recorde, e esse crescimento deve continuar. ?O pior já passou?, diz Carlos Daltozo, analista do BB Investimentos. ?Os bancos fizeram a lição de casa, cortaram custos e reduziram seu índice de inadimplência?, diz o analista, que ressalva não analisar a situação do próprio banco. Os frutos deverão começar a ser colhidos agora, com o aquecimento sazonal da economia no último trimestre do ano. Nesse período, tradicionalmente, as famílias gastam e se endividam mais, recorrendo a financiamentos e aos cartões de crédito. 

 

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Aposta no Brasil: Emilio Botín, presidente mundial do grupo Santander: troca de R$ 6 bilhões

em ações por um montante equivalente em dívidas subordinadas

 

?Os bancos privados têm sido mais conservadores na concessão de empréstimos e agora tendem a ampliar o volume de financiamentos, e isso é antecipado pelo mercado acionário?, diz Marcelo Torto, analista da corretora paulista Ativa. ?Os empréstimos consignados e imobiliários devem ser os mais negociados.? Nesse cenário, Torto aposta na continuidade da valorização das ações dos grandes bancos privados brasileiros. ?O Bradesco deve aumentar seus lucros, especialmente com o bom resultado na área de seguros, que representa 30% do resultado?, diz. Vale lembrar que a ação do Bradesco foi a que menos se valorizou no trimestre, uma alta de apenas 5,72%.

 

 

Um dos bancos que mais brilharam no pregão foi o Santander. As units do banco ? papéis compostos por 50 ações preferenciais e 55 ações ordinárias ? valorizaram-se 20,4% no trimestre, depois de amargar um longo período de baixa. Boa parte desse ganho ocorreu nos últimos dias do trimestre, devido a uma proposta do banco presidido pelo espanhol Emilio Botín para aumentar sua rentabilidade patrimonial, que está abaixo da média dos concorrentes. No dia 26 de setembro, o Santander anunciou a redução de R$ 6 bilhões do valor patrimonial das ações e a emissão de um valor correspondente em dívida subordinada. Além de melhorar a relação entre capital e empréstimos, a decisão rendeu R$ 1,58 para cada unit. A divulgação da proposta fez as cotações do Santander subirem 15% em dois dias e, para alguns analistas, essa alta pode chegar a 37% até o fim do ano. 

 

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Luiz Barsi investidor: “Comprei ações do BANCO Santander antes da mudança no patrimônio.

Se o papel estiver abaixo dos R$ 15 é ponto de compra”

 

Daltozo, do BBI, adverte, porém, que para o Santander alcançar tamanha valorização será preciso mostrar ao mercado uma maior eficiência em sua estrutura operacional. ?A bonificação é uma prova de que a matriz pretende investir mais no Brasil, responsável por 25% do faturamento?, diz Daltozo. O investidor Barsi diz estar otimista. ?Andei comprando ações do Santander por achar que o preço estava baixo?, diz ele. ?Se a cotação ficar abaixo de R$ 15, eu compro.?

 

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