Havia poucos meses que Marcio Pochmann tinha assumido o comando do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2007, quando o economista Paulo Tafner, então chefe da área de previdência do instituto, foi informado de que seriam congeladas novas bolsas de pesquisa para a sua área.

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“Ele disse que os contratos que fossem encerrados não seriam mais repostos, me olhou nos olhos e disse: ‘Restrição orçamentária, você sabe bem o que é isso, não é?'”, lembra Tafner. “Curioso que o orçamento do Ipea dobrou na gestão dele.”

Tafner, referência nos estudos de previdência, foi testemunha da mudança que Pochmann promoveu no Ipea naqueles anos: expurgos, projetos extintos por inanição e textos críticos às políticas do governo que “dormiam” nas gavetas. “Os TDs (textos para discussão) simpáticos saíam em dias”, lembra.

Pochmann chegou ao Ipea pelas mãos do então ministro Guido Mantega após a queda de Antonio Palocci, no governo Lula 1. O então presidente do instituto era Glauco Arbix, que conservou linhas de pesquisa que eram interpretadas pelo governo como “neoliberais”.

Na gaveta

“O Estado de uma nação”, coordenada por Tafner, foi engavetada no meio da produção da terceira edição, quando abordaria o tema da eficiência da máquina estatal. Outra vítima foi o Boletim de Conjuntura Econômica, publicação trimestral que era comandada por Fabio Giambiagi, economista do BNDES cedido ao Ipea, e que foi reduzida sob Pochmann com o argumento de que a análise do cenário econômico já era feita por diferentes casas financeiras e que não era mais necessário o esforço do órgão de pesquisa.

Além dele, outros três economistas já aposentados e que trabalhavam no Ipea foram expurgados do órgão logo na chegada de Pochmann: o macroeconomista Regis Bonelli, estudioso dos temas da produtividade; Gervásio Rezende, especialista em economia agrícola; e Otávio Tourinho. Todos “neoliberais”, segundo a classificação que levaram à época.

Em compensação, outras áreas ganharam relevo, como os estudos das Instituições e da Democracia, voltados a temas da ciência política e que, em 2009, ganhariam uma diretoria no órgão de pesquisa econômica.

Um ano após desembarcar no Ipea, Pochmann fez o maior concurso de que se tem notícia no instituto. Foram selecionados 62 técnicos de pesquisa de formação que escapavam à economia clássica, e incluíam cientistas sociais e sociólogos – o que mudaria o perfil da corporação, com efeitos que perduram até hoje.

Outros ex-integrantes do órgão, que preferem o anonimato, lembram que o concurso aboliu questões econômicas e se mostrou enviesado para temas afeitos à esquerda e às linhas econômicas heterodoxas.

Procurado, Pochmann não se manifestou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.