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R$ 8,2 milhões é o patrimônio do fundo Meninas Iradas, criado para investidoras

1.101 cotistas tem o fundo administrado pelo banco Geração Futuro

R$ 100 é a aplicação inicial do fundo de Eliana (esq.), Márcia, Letícia e Carolina

Paramontar um clube de investimentos basta juntar um grupo de amigos ou familiares com o interesse de investir em ações. O passo seguinte é procurar uma corretora de valores para auxiliar na elaboração do estatuto e na administração da carteira, definir a taxa de administração, que varia de 0,5% a 2%, e começar a fazer depósitos mensais. O que começa como um exercício para iniciantes do mercado de renda variável pode ganhar novas proporções. É cada vez mais comum clubes se transformarem em fundos de investimento em ações. Basta uma assembleia entre os cotistas para aprovar a transformação. A única exigência da comissão de Valores mobiliários para esse salto é um patrimônio mínimo de R$ 300 mil.

Com a expansão do mercado acionário e a atratividade cada vez maior da bolsa para as pessoas físicas, inúmeros clubes que começaram tímidos hoje são fundos de ações (FIA) com milhares de investidores. Alguns mudaram porque atingiram o número máximo de 150 cotistas. Outros quiseram apenas migrar para um tipo de investimento que permite maior complexidade de gestão. Em alguns casos, deram origem até a gestoras de investimento, como aconteceu com a Bogari capital, a Guepardo Investimentos e a Sparta Fundos.

Criado no início de 2003, o Vespi, clube de investimentos dos tenistas do Clube Pinheiros, em São Paulo, já se tornou um clássico dessa tendência. Até 2007, permaneceu como clube, com a gestão feita pelo banco Geração Futuro. Depois, abriu para não associados do Pinheiros e transformou-se no fundo Vespi, gerido pela mesma instituição e com a mesma carteira acionária (Vale, Petrobras, Usiminas e Gerdau, entre outros). “Gostamos da ideia de ter mais cotistas para aumentar nosso poder de compra”, afirma José Américo da Silva e Souza, 73 anos, bancário aposentado e investidor do Vespi desde o início. Com 176 cotistas, o fundo tem hoje patrimônio líquido de R$ 5,2 milhões. A cota chegou a ter 1.400% de valorização desde 2003, mas perdeu com a crise e hoje a rentabilidade acumulada está em torno de 800%. Quem entrou no final de 2007, no entanto, ainda não conseguiu recuperar o valor da cota, que estava em R$ 14 e agora custa em torno de R$ 10.

Oconceito de um clube de investimento é reunir pessoas com um interesse em comum, além da vontade de investir. Mas, em alguns casos, as próprias corretoras de valores criam clubes abertos e permitem a entrada de seus clientes, independentemente da conexão que eles possam ter entre si. Esse foi o caso do clube meninas iradas, do banco Geração Futuro, e do Vida Feliz, criado pela Spinelli corretora. O primeiro foi criado em outubro de 2008 e rapidamente virou fundo. Hoje, administra um patrimônio líquido de R$ 8,2 milhões e possui 1.101 investidores. O sucesso do Meninas Iradas decorre basicamente do marketing feito entre as mulheres. As cotistas Letícia Tanaka, 26 anos, Márcia Janeiro, 46, Eliana Mieko Sato, 24 e Carolina Ruiz, 32, confessam que grande parte do charme que as atraiu ao clube foi o nome. “O nome é tudo. Dá a impressão de força, atitude. Afinal, ser irada significa ser investidora”, diz Márcia. Outro fator que conquistou o público feminino e fez o número de cotistas crescer foi a preocupação com responsabilidade social. Na carteira não entram papéis de empresas que fabriquem armas ou cigarros. Além disso, uma parcela da taxa de administração do fundo é doada para ONGS. “isso é muito legal e não vemos muitos fundos de investimento seguirem esse caminho”, diz carolina. A entrada é a partir de R$ 100 e a taxa de administração é alta: 4% ao ano.

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R$ 5,2 milhões é o patrimônio do fundo Vespi, que começou com tenistas e tem 176 cotistas

Já o clube de investimentos Vida Feliz foi criado pela Spinelli para pais interessados em comprar cotas em nome dos filhos de até 16 anos. O clube surgiu em 2005 e, em setembro de 2007, transformou-se em fundo. Acumula desde então 94% de rentabilidade, patrimônio de R$ 575 mil e uma carteira com Vale, Petrobras, Usiminas, JBS-Friboi e Marfrig, entre outras ações. Seu número de cotistas, no entanto, não passa de 99, entre os quais está a analista de sistemas paulistana Cristiane Stenberg, 37 anos, que investe para o filho André, de 13 anos. “Invisto todo mês, como se fosse uma poupança. E o legal é que não precisa ser nenhum expert para investir, já que tudo é gerenciado pela corretora”, diz ela. O investimento inicial é de R$ 50.

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R$ 50 é o investimento inicial no fundo Vida Feliz, de Cristiane e seu filho, André

Diferentemente dos anteriores, o fundo Bogari Value FIA nasceu do clube de Investimentos Bogari, que deu origem, por sua vez, à gestora de investimentos Bogari Capital. Flávio Sznadjer, criador do clube e da gestora, administrava até julho de 2008 os investimentos de sete familiares. Pegou a subida eufórica da bolsa e tomou gosto pela arte de investir. Desde a criação do clube, em novembro de 2006, a rentabilidade acumulada é de 586%, dez vezes mais que os 56,2% do ibovespa no período. “É um fundo essencialmente composto por ações compradas e vendidas no mercado à vista. Nada de derivativos, opções ou crédito privado. Sou supercareta”, diz Sznadjer. O fundo é comercializado no varejo, sua cota vale R$ 680 e seu patrimônio líquido alcançou 18,2 milhões em outubro de 2009.

Os investidores que se empolgam com fundos derivados de clubes devem tomar cuidado. Sem a placa de uma instituição financeira reconhecida, os riscos podem ser maiores. Segundo Hélio Pio, diretor da Ágora Invest, é necessário conhecer muito bem o gestor. “Clubes não têm auditoria e têm menos transparência que os fundos. Além disso, não precisam fornecer relatórios detalhados para a Anbid”, pondera Pio. “A transformação de clube para fundo exige a contratação de uma auditoria externa, que faz toda a fiscalização”, completa Manuel Lois, diretor da Spinelli.

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