Já se foi o tempo em que comprar ações na Bolsa era para poucos. Com negociações on-line, corretoras sem taxas e lotes de ações fracionados, o investidor consegue comprar uma ação por menos de R$ 1 na Bolsa. O problema é avaliar quais ativos podem trazer bons retornos. São os casos de Oi e IRB. As duas empresas estão com os papéis desvalorizados e na casa dos centavos. A companhia de telecomunicações passa por essa situação há seis anos. A primeira vez que a ação da empresa terminou um pregão valendo menos de R$ 1 foi em 6 de abril de 2016. Ao longo do período, a Oi fez uma série de reagrupamentos de ações. O último foi anunciado na quinta-feira (2), na proporção de 10 para 1. Enquanto isso, o IRB marcou uma assembleia para o próximo dia 22 para aprovar um reagrupamento de 30 ações para 1. Os ativos das duas empresas reagiram mal. Os papéis do IRB fecharam em queda de 6,67%. Já as ações da Oi recuaram 10% após o anúncio.

Para os analistas da VG Research Luan Alves e Milton Ribeiro, os papéis foram pressionados pelo temor do mercado em relação à perda de liquidez dos ativos, o que pode acontecer em reagrupamentos. “Outro motivo é que ao optar por esse caminho fica subentendido que a companhia não visualizou nenhum gatilho de valorização no curto prazo para que as ações voltem a ser negociadas a um preço superior a R$ 1”, disseram. No mercado, a dúvida é se essas empresas realmente estão sendo negociadas a um preço justo ou não.

Segundo o sócio da Valor Investimentos Gabriel Meira, o IRB vive uma crise de credibilidade. “A empresa tenta recuperar a confiança do mercado após a gestora Squadra apontar inconsistências no balanço em fevereiro de 2020”, afirmou. De acordo com Milton Ribeiro, da VG Research, mesmo com o IRB sendo o líder de mercado do seu setor e tendo acionistas de peso, como grandes bancos, a empresa ainda não passa confiança. Por isso, o processo de recuperação pode ser lento ou não ser bem sucedido. “Para que o IRB consiga sair dessa situação, seria necessário uma suavização dos efeitos dos contratos descontinuados, que têm penalizado os resultados da companhia”, disse. Ele se refere a contratos feitos pela antiga gestão e que a empresa ainda é responsável. “Esses contratos possuem sinistros puros e são um dos pontos centrais dos riscos da tese de investimento em IRB, já que as perdas financeiras decorrentes das mesmas parecem mais longas do que o esperado.”

Essa sequência de prejuízos causados pela alta da sinistralidade fez o IRB ter problemas com a reguladora do setor de seguros, a Susep. Para isso, a empresa teve de fazer uma nova oferta de ações para estancar a queima de caixa. Segundo o assessor de investimentos da SVN Pedro Queiroz, outra diluição dessas pode ser esperada. “As sinistralidades tendem a continuar, o que deve acarretar em uma nova queima de caixa e a necessidade de uma nova captação”, disse.

Em nota, o IRB informou que os nove meses de 2022 foram impactados pelo segmento Rural e Vida. “Continuamos a melhorar a qualidade do nosso underwriting [aceitação de riscos] e, excluindo os efeitos extraordinários, teríamos registrado resultados melhores”, afirmou a empresa à DINHEIRO. Se o IRB Brasil parece estar distante de ser uma empresa atrativa para o investidor, a Oi já escalou metade de uma montanha cheia de perigos.

METADE DO CAMINHO Segundo o CEO da Finacap, Luiz Fernando Araújo, a empresa está na fase final de sua recuperação judicial e já mostra alguns feitos. “Além de o Ministério Público ter sinalizado a fase final da recuperação judicial, a venda de parte da V.tal para o BTG Pactual e as parcerias que essa empresa vem realizando, como o acordo com a Tim, podem gerar bons lucros para a Oi”, disse Araújo. Todavia, ele comenta que ficaram alguns empecilhos no trajeto da empresa, o que tende a dificultar uma recuperação do ativo. “A contestação do consórcio que comprou os ativos móveis da Oi, o qual não queria pagar o valor completo pela negociação, frustrou muito o mercado.”

Já de acordo com Luan Alves, da VG Research, o cenário pode ser uma grande pedra no sapato, principalmente para o investidor que espera lucro em 2023. “Para a Oi fechar o próximo ano com lucro, precisaríamos de uma queda mais acentuada do dólar e dos juros”, disse. “A empresa tem uma dívida elevada em moeda estrangeira e o dinheiro americano em patamar elevado tem prejudicado as despesas financeiras.” Para o sócio da Valor Investimentos Gabriel Meira, a Oi ainda está em um grau mais avançado que o IRB, mas as duas não são interessantes. “Existem empresas com geração de caixa muito melhor e que podem render bem mais para o acionista”, afirmou. Os demais analistas vão na mesma linha e acreditam que os retornos que elas podem trazer são para investidores que não se preocupam com o risco elevado do ativo. A Oi não respondeu à reportagem.