O hábito é antigo. Preocupados em garantir o futuro dos herdeiros, a primeira aplicação financeira que muitos pais fazem para os filhos é a caderneta de poupança. Embora segura ? depósitos até R$ 20 mil têm a garantia do Fundo Garantidor de Crédito ? a rentabilidade não é das melhores. Estudo realizado pela consultoria Economática para DINHEIRO mostra que, nos últimos 18 anos, a poupança rendeu 58,9%. Nesse mesmo período, quem investiu na Bolsa de Valores ganhou 747,1% ? quase treze vezes mais. Por que, então, não criar uma espécie de poupança em ações para os pirralhos?

Essa é a proposta da Spinelli Corretora, de São Paulo, que acaba de lançar o primeiro clube de investimento em ações para crianças. Batizado de ?Vida Feliz?, o clube está aberto para jovens investidores de até 13 anos. ?A idéia é que o investidor resgate sua aplicação quando fizer 18 anos?, diz Nelson Spinelli Neto, diretor da corretora fundada pelo seu avô. ?Em cinco anos, dá para ter um retorno razoável com ações?. Para participar, cada cotista tem de depositar pelo menos R$ 30 por mês. Aplicações maiores são permitidas, desde que nenhum cotista tenha mais de 40% do patrimônio total. O volume total arrecadado é aplicado em ações. A gestão é da Spinelli, que cobra uma taxa de administração de 2% ao ano. Mas a política de investimentos é definida pelos próprios cotistas ? ou, no caso de quem for menor de idade, pelos pais. ?A idéia é formar a poupança dos jovens e, paralelamente, uma nova geração de investidores no mercado de ações?, diz Neto.

A iniciativa da corretora é bem vista tanto por especialistas em investimento quanto em educação financeira. Sob a ótica da rentabilidade, quanto maior o prazo que o investidor pode aguardar até o resgate, melhor para as aplicações em renda variável. ?No longo prazo, as ações tendem a render mais que a renda fixa e a poupança?, observa o consultor José Renato Carollo, da Carollo Consulting. ?Por isso, o ideal é aplicar em renda variável logo cedo?. Para os educadores, o principal benefício é na formação. ?Um clube de investimento para crianças tem tudo para dar certo, pois os jovens são muito curiosos?, diz o professor de economia Osvaldo Ferreira, da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo. Na escola, a disciplina de economia faz parte do currículo e é tão importante quanto português e matemática. No segundo ano do ensino médio, os alunos se aprofundam no funcionamento do mercado financeiro. Divididos em grupos, cada um recebe uma verba virtual de R$ 150 mil para montar uma carteira de investimento em ações e derivativos (com mini-contratos de Ibovespa futuro). ?Nosso objetivo é fazer com que os alunos leiam mais, se informem, aprendam a analisar dados e a raciocinar?, diz o professor Ferreira. Embora a formação de financistas não seja o propósito da matéria, alguns acabam tomando gosto pela coisa. ?Tem grupos com rentabilidade acumulada de 30%, quase o dobro do Ibovespa, que neste ano acumula ganhos de pouco mais de 15%?, conta Ferreira.