Entrou no ar a primeira corretora do mundo com um pé na alta tecnologia da Internet e outro na tradição milenar do Corão e dos ensinamentos do profeta Maomé. A iHilal.com, de Dubai, nos Emirados Árabes, caiu na rede com a missão de operar segundo os rigores da lei espiritual do Islã. Fundos e ações de empresas que tenham ligações com atividades proibidas para os muçulmanos, como usura e jogo, estão vetados. O site só vende produtos financeiros islamicamente corretos. As restrições são muitas, mas o otimismo é grande. A corretora prevê que a fidelidade dos 10 milhões de muçulmanos conectados à Internet no mundo vai gerar US$ 100 milhões em negócios em dois anos. Estima-se que o mercado para ações à moda islâmica seja de US$ 150 bilhões ao ano.

Em vez de encher o site com informações técnicas e notícias de mercado, a iHilal.com pôs no ar uma alentada seção com textos como ?Investindo de acordo com a Shari?ah? (o alicerce das leis islâmicas) e ?Islã e Finanças?. A corretora mobilizou academias de estudos muçulmanos e, com base nos textos sagrados, elaborou um manual do investidor islâmico. Comprar ações, por exemplo, é um negócio abençoado pelo Corão, porque mantém o fiel comprometido com o objeto de seu investimento. Mas as ações não podem ser de companhias que fabriquem produtos proibidos, como bebidas alcoólicas ou armas.

Aplicações em fundos ou títulos de renda fixa são consideradas haram, ou seja, totalmente interditadas. O veto ocorre porque, segundo a tradição, Maomé amaldiçoou todos os que participam de negócio que envolva juros. A maldição vale para quem cobra e para quem paga juros, sem distinção.
A corretora vai ser tão internacional quanto possível. Já está registrada para negociar em Nova York as 650 ações de empresas listadas no índice islâmico da Dow Jones, e deverá se cadastrar em Londres também. O controle da iHilal.com está nas mãos de um grupo árabe, o Rasmala, mas o Deutsche Bank tem 18% do capital e a Accenture, ex-Andersen Consulting, outros 17%.