No mundo corporativo, a trágica lembrança dos atentados terroristas contra as torres gêmeas do World Trade Center está por toda parte. Na semana passada, surgiu em vermelho na primeira safra de balanços publicada desde que os prédios ruíram, arrasando a economia dos Estados Unidos. Os números do terceiro trimestre de 2001 comprovaram o que a bolsa já anunciava. Entre o fatídico dia 11 de setembro e 22 de outubro, o índice Dow Jones caiu 12%. Olhando as empresas de perto, o estrago foi ainda maior. O terror acelerou o processo de retração econômica nos EUA e fez alguns papéis virarem pó nas últimas semanas. Levantamento feito para DINHEIRO pela consultoria Economática ? com 378 das 500 empresas americanas que formam o índice Standard & Poor?s 500?revela perdas dramáticas: as 10 maiores desvalorizações, por exemplo, variam entre 81% e 31,5%. A lista das piores baixas não inclui apenas as empresas de aviação e turismo, conhecidas vítimas dos ataques terroristas. Ali, também estão negócios na área de energia, de telecomunicações e produtos eletrônicos. Em comum, essas empresas têm o problema do desaquecimento nas vendas.

No topo da lista das maiores quedas está a empresa de cartões de crédito Providian Financial. A empresa não tinha escritórios no World Trade Center, mas suas ações despencaram 81% desde o dia dos atentados. A explicação para o fiasco está nas perdas sofridas por conta da inadimplência. O calote e as fraudes já fizeram com que o lucro da empresa caísse 71% no primeiro trimestre fiscal. A segunda maior desvalorização é da empresa de rede de dados e telefonia Global Crossing. A queda de 70% no preço das ações reflete a temporada de más notícias que a companhia vem enfrentando nos últimos meses. A companhia perdeu clientes e trocou de presidente seis vezes somente este ano. Para piorar, tinha escritórios no 83o andar da Torre 1 do WTC. O único motivo de comemoração: todos os funcionários estão a salvo.

Efeito terror. Na área de energia, duas empresas amargaram fortes perdas. As ações da AES e da Enron caíram 52,2% e 37%, respectivamente. Ambas tiveram problemas internos agravados pela retração nos Estados Unidos. A AES anunciou queda nos resultados esperados para este ano devido à retração dos negócios no Brasil e Reino Unido. A Enron, que também sofre com o desaquecimento econômico, assustou os investidores com a revelação de prejuízos de mais de US$ 1 bilhão amargados em parcerias desconhecidas no mercado e entre as autoridades financeiras.

Os estilhaços dos atentados também atingiram o setor de telecomunicações. As ações da Nextel, empresa de telefone celulares, desabaram 30,5% por conta do receio dos investidores em relação ao encolhimento das vendas nos Estados Unidos e em outros mercados. As perdas da empresa no terceiro trimestre foram de US$ 150 milhões. A situação de empresas como a Nextel acabaram afetando, em efeito dominó, os negócios da Corning, maior fabricante americana de vidros usados nas redes de telecomunicações. As ações da empresa, que viram suas vendas caírem 21% no último trimestre, recuaram 23%.

O ?efeito terror? tira o sono até de empresários da área de tecnologia. As ações da Cooper Industries, uma das maiores fabricantes de produtos eletrônicos, caíram 30,5% por
conta da perspectiva de queda nas vendas. Já no terceiro
trimestre, as receitas da empresa encolheram 19%. Pelo mesmo motivo, as ações da Teradyne, maior fabricante de equipamentos de testes para chips, recuaram 30,4%. A empresa anunciou no mês passado que pretende cortar mil empregos e reduzir em 15% o salário de seus funcionários.

As ações do setor de entretenimento também sofreram um duro golpe. Os investidores decidiram se desfazer dos papéis porque acreditam que o terror espanta os turistas. As ações da Carnival, uma das maiores empresas de cruzeiros, desabaram 26,4%. Os papéis da Disney seguiram a mesma tendência: após os atentados, caíram 19,3%. O fantasma da inadimplência no setor fez as ações da administradora de cartões American Express recuar 11%.

Nem as ações da Eastman Kodak saíram ilesas. Os papéis da empresa caíram 18,5%. A empresa anunciou na semana passada que o lucro do terceiro trimestre será mais de um terço menor que as expectativas por conta da queda das vendas de filmes. O setor aéreo foi um dos mais afetados. Um exemplo são as ações da Delta Airlines: despencaram 36%. A perspectiva de retração nas encomendas também derrubou em 20,5% os papéis da Boeing. Em efeito dominó, a situação atingiu as ações da Honeywell, fabricante de equipamento para aeronaves, cujas ações caíram 20%. Agora, é esperar a turbulência passar.