O Brasil e a Argentina vivem atualmente uma situação, no mínimo, inusitada no comércio de veículos. Embora o mercado argentino seja o maior cliente das montadoras brasileiras e vice-versa, os dois governos não conseguem chegar a um acordo sobre a renovação do regime automotivo, que estabelece limites de importação e exportação. A demora é tanta que, desde o dia 1º de julho, está em vigor a regra de livre comércio, prevista no último documento assinado em 2008, que estabelece tarifa zero para importação e exportação de veículos. 

 

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For export: carros produzidos no Brasil aguardam

o embarque para a Argentina

 

O governo Cristina Kirchner, que adotou o protecionismo como uma de suas bandeiras econômicas, não quer nem ouvir falar em livre comércio, e cada vez mais pressiona Brasília a aceitar novas barreiras. O próximo round das negociações deve acontecer na sexta-feira 12, quando a presidenta Dilma Rousseff se encontrará com Cristina na Cúpula do Mercosul, em Montevidéu, no Uruguai. O atual regime automotivo previa, até o dia 30 de junho, um “coeficiente flex”. Ou seja, para cada dólar importado pelo Brasil, o País poderia exportar US$ 1,95 para o mercado argentino, limite que nunca foi atingido. 

 

Em 2012, a corrente comercial do setor automotivo, incluindo autopeças, totalizou US$ 17,2 bilhões, com um superávit de US$ 1,02 bilhão a favor do Brasil. O que mais dificulta as negociações, no entanto, é a enorme diferença de tamanho dos dois mercados (leia quadro), pois o governo argentino teme ser invadido pela produção brasileira. “As fábricas na Argentina se especializaram em veículos médios, com um volume menor de produção”, diz Milad Kalume Neto, executivo da consultoria automotiva JATO Dynamics. “Já o Brasil produz carros menores em larga escala.” Nos bastidores das negociações, o clima é pesado. 


DINHEIRO apurou com representantes do Ministério do Desenvolvimento e dos fabricantes do setor que o governo argentino quer aumentar o grau de protecionismo. Uma das propostas é estabelecer o limite “flex” por empresa e não mais pela soma do setor inteiro. A Anfavea, que representa as montadoras no Brasil, não aceita essa condição. Outra hipótese seria reduzir o limite brasileiro de US$ 1,95 para um valor inferior a US$ 1,50, o que, em tese, diminuiria as exportações para o mercado vizinho. “Temos de avançar no novo acordo, não retroceder”, diz Antonio Sergio Mello, vice-presidente da Anfavea, que acompanha de perto as negociações. 

 

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