04/04/2015 - 12:56
O acordo preliminar concluído entre as grandes potências e Teerã sobre o programa nuclear gerava dúvidas neste sábado na imprensa iraniana, sobretudo acerca do calendário do levantamento das sanções internacionais que estrangulam a economia local.
A imprensa conservadora se declarava cética sobre os resultados obtidos na Suíça, enquanto o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, que tem a última palavra neste assunto, permanecia em silêncio.
Os jornais reformistas e moderados elogiaram neste sábado o trabalho dos negociadores iranianos liderados pelo ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, mas os jornais conservadores se concentravam nas diferentes interpretações possíveis do documento publicado em Lausanne.
A agência de notícias Fars também ressaltou as divergências entre o texto apresentado pela delegação iraniana e o divulgado pelo departamento americano de Estado.
“Quem é o verdadeiro vencedor?”, se perguntava em sua primeira página o jornal de língua inglesa Iran News.
Vatan-Emrooz (conservador) afirma que “há uma grande diferença entre o que se dá e o que se recebe no acordo de Lausanne”. Para o jornal Javan, considerado próximo aos Guardiões da Revolução, o exército de elite do regime, “a vitória radicará na luta entre as diferentes interpretações” do texto.
O ultraconservador Kayhan ironizava a ideia de que o acordo será benéfico para as duas partes: “o nuclear irá embora e as sanções ficarão”.
O Irã pede o levantamento total e imediato das sanções impostas por ONU, Estados Unidos e União Europeia. As grandes potências são partidárias de um levantamento gradual.
“O acordo de Lausanne mostra que as coisas que o Irã aceitou são claras e verificáveis, mas o que o outro lado aceitou é vago e sujeito a interpretação”, estimava neste sábado em um editorial o diretor do Kayhan, Hosein Shariatmadari.
“O acordo fala de suspensão das sanções, e não de seu levantamento”, acrescenta o funcionário, nomeado diretamente em seu cargo pelo aiatolá Khamenei.
Mansur Haghighatpur, vice-presidente da comissão parlamentar sobre a segurança nacional e a política externa, estimou que os negociadores excederam as suas prerrogativas.
“Oferecemos uma chave para inspeções ocidentais nas instalações militares e o protocolo adicional (do tratado de não proliferação nuclear), quando as decisões sobre estes temas são competência do parlamento”, disse, citado pela agência Tasnim.
O acordo preliminar entre o Irã e as grandes potências foi alcançado na última quinta-feira após uma maratona diplomática de mais de 18 meses de negociações entre Genebra, Viena, Nova York e Lausanne.
Esta etapa foi considerada “histórica” rumo ao acordo final, previsto para 30 de junho.