20/02/2025 - 7:00
Seja na política migratória ou na balança comercial: quando o presidente americano, Donald Trump, decide impor seus interesses – que ele define como sendo dos EUA –, ele recorre a tarifas. Para importações dos países vizinhos Canadá e México, por exemplo, ele fala em tarifas de 25% – e ameaça aplicar medidas semelhantes contra a Europa.
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Na Europa e na América Latina, por outro lado, parece haver agora uma conscientização crescente da necessidade de responder aos desafios geopolíticos por meio de maior cooperação. Em vista das medidas protecionistas de Trump, o ministro do Exterior do Uruguai, Omar Paganini, pediu há alguns dias, em Bruxelas, a ratificação do acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul para enviar “um forte sinal ao mundo”.
No final de dezembro, após mais de duas décadas de negociações, a União Europeia e o Mercosul declararam o acordo de livre comércio como concluído. Se ratificado, ele irá criar uma área comercial composta pelos 27 Estados-membros da UE e pelos quatro países fundadores do bloco sul-americano: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
Juntos, eles possuem mais de 700 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 22 trilhões de dólares (cerca de 125,2 trilhões de reais). O acordo de livre comércio ainda não se aplicaria à Bolívia, que só aderiu ao Mercosul no ano passado.
Estado de grande incerteza
A política tarifária de Trump também tem causado agitação na América Latina, disse Vladimir Rouvinski, do Centro de Pesquisa da Universidade de Icesi, em Cali (Colômbia).
“As ameaças tarifárias que Trump tenta impor são uma espécie de terapia de choque. Ele não dá muito espaço de manobra aos governos latino-americanos, que se sentem pressionados.” Nesse contexto, a Europa oferece uma oportunidade única para a América Latina, avalia.
O economista e empresário teuto-brasileiro Ingo Plöger vê grandes vantagens para ambos os lados no acordo entre Mercosul e UE. “O acordo oferece uma grande oportunidade. Trata-se de expandir o que foi acordado – no interesse estratégico tanto da União Europeia quanto do Mercosul”, diz. Ele ressalta que, por exemplo, inúmeras empresas alemãs e europeias já atuam no Brasil e teriam um bom ponto de partida para expandir seus negócios no âmbito do pacto.
Morosidade europeia
O economista Gilvan Bueno, no entanto, faz um alerta sobre expectativas muito altas de uma rápida cooperação entre Europa e América do Sul. Ele aponta, afinal, que a UE e o Mercosul levaram 20 anos para negociar o acordo.
“Isso mostra que a parceria comercial entre Europa e América do Sul não vai acontecer tão rápido. Vimos que há muitos obstáculos.”
Por um lado, o processo de ratificação ainda não foi concluído e, por outro, há resistência de agricultores da França e de países do sul da Europa, que precisam se preparar para competir com a altamente eficiente indústria agrícola brasileira.
Isso, por sua vez, revela por que a Europa perdeu poder econômico, os Estados Unidos se tornaram uma potência e a China conseguiu crescer tão rapidamente. “A China consegue fechar acordos mais rapidamente, e os Estados Unidos têm uma moeda dominante.”
Apesar de todas as oportunidades que o acordo de livre comércio oferece no médio prazo, ele chega tarde demais para compensar as atuais disputas alfandegárias entre os EUA e o resto do mundo, pois o pacto não deve entrar em vigor antes de 2026.