Pelas análises feitas pelo Banco Central para o mercado de crédito no mês de março, de acordo com o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, é nítida a desaceleração dos saldos por carteiras. O economista se refere às estatísticas constantes da Nota de Credito do mês passado que BC divulgou hoje à imprensa nesta quarta-feira.

O saldo das operações de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$ 5,4 trilhões em março, expansão de 0,7% no mês. Esse resultado decorreu dos incrementos mensais de 0,6% no saldo do crédito destinado às empresas, para R$ 2,1 trilhões, e de 0,8% no saldo do crédito para as famílias, que atingiu R$ 3,3 trilhões.

Comparativamente a igual mês do ano anterior, o saldo do crédito total cresceu 12% em março, desacelerando ante a expansão de 12,7% no mês anterior. Por segmento, no mesmo período de comparação, tanto o crédito para as empresas quanto às famílias também desaceleraram, para 5,5% ante 6% em fevereiro e para 16,5% ante 17,4%, na mesma ordem.

Na verdade, lembra Tingas, desde o segundo semestre do ano passado que a carteira de crédito livre vem desacelerando ao mesmo tempo em que se observa uma gradual ascensão da carteira de crédito direcionado.

“Isso está relacionado à inflação elevada e ao forte aperto da taxa de juro, ao aumento da inadimplência, à redução do fluxo de caixa de famílias e empresas. Portanto, é a política monetária a situação conjuntural da economia desacelerando o crédito”, avalia Tingas.

A esse quadro de juros altos se juntou também para abalar o mercado de crédito, de acordo com o economista da Acrefi, as dificuldades das grandes lojas de varejo potencializadas pelas Lojas Americanas. Como se não bastasse os problemas domésticos afetando o crédito, em março ocorreu também a corrida bancária americana que reforçou o ambiente de cautela com relação à desaceleração e risco da economia internacional e doméstica.

“Portanto, as concessões de físicas e jurídicas no mês de março estão em linha com esse aperto de política monetária e as condições conjunturais”, analisou Tingas.

Outro ponto que não pode ser deixado de fora da análise dos dados de crédito referente a março é o efeito calendário. Fevereiro deste ano, por causa do carnaval, teve apenas 18 dias úteis.

Março, por sua vez, teve 23 dias úteis. Então, o mercado de crédito que já vinha numa trajetória de demanda descendente por razões sazonais, como comprometimento da renda das famílias em pagamentos de despesas de começo de ano e a equalização de estoques e problemas de caixa das empresas, sofreu com o efeito calendário.