26/10/2001 - 8:00
Livros e CDs foram a vedete das compras on-line por quase dois anos. Com preços baixos, ajudaram a popularizar os sites de comércio eletrônico. Agora que já cumpriram o seu papel, chegou o momento de saírem de cena. A vez é dos aparelhos de DVDs de R$ 899, das lavadoras de R$ 898 e dos telefones celulares de R$ 1.390. Mercadorias que custam menos de R$ 100 são cada vez mais raras. ?Há um movimento nítido por parte das lojas para aumentar o valor em busca de margens melhores?, diz André Sapoznik, da e-Bit, que faz pesquisas com Internet. ?Isso ocorre porque o custo de entregar um pedido de R$ 180 não é três vezes maior que levar uma compra de R$ 60.?
O esforço tem obtido efeito. De acordo com o e-Bit, que investiga quase 400 lojas virtuais, o tíquete médio (média no valor de todos os pedidos) ultrapassou os R$ 200 pela primeira vez em abril deste ano. No mês passado, estava em R$ 225. Até mesmo o site Submarino, que ganhou fama vendendo CDs e livros a preço baixo, deve 55% do seu faturamento a eletrodomésticos, eletroeletrônicos e produtos de informática. Na Americanas.com, que mostra um home theater de R$ 2.049 na página principal, o tíquete dobrou em um ano, de R$ 150 para R$ 300. No Amélia.com, do Pão de Açúcar, o valor, que sempre foi elevado, pulou de R$ 235 no início do ano para R$ 295 em agosto. No Shoptime.com, o tíquete em um ano saiu de R$ 190 e foi para R$ 300. ?Quem vive de livros e CDs dificilmente vai ter rentabilidade tão cedo?, diz Maria Isabel di Celio, diretora de Internet do Shoptime.com. Na Cultura, cada pedido sai por aproximadamente R$ 83. As duas, contudo, levam vantagem sobre as pontocom puras porque contam com o amparo de uma loja tradicional por trás.
Prevenidos. Há também quem tomou precauções desde o início. Na loja virtual do Ponto Frio, tradicional vendedor de eletrodomésticos, o tíquete médio nunca foi inferior a R$ 150. E não foi sem querer. ?Vender produtos de baixo valor, como bombons e talcos, na Internet é pedir castigo?, diz Ike Zarmati, diretor-executivo de Internet do Ponto Frio. Com aparelhos de som e aparelhos de DVDs no site, a empresa consegue um valor médio invejável de R$ 500 ? um número ainda maior que o tíquete não menos desprezível de R$ 295 do Amélia.com, do grupo Pão de Açúcar. ?É um problema de aritmética. Tiramos todas as coisas de preço baixo do site?, afirma Zarmati. Outro que pode se gabar dos próprios números é o site de venda de automóveis Carsale. O tíquete médio fica entre R$ 19 mil. Em vez de cobrar uma porcentagem, o que se tornaria impraticável, o site cobra um valor fixo não revelado, mas que certamente fica acima de R$ 150 por transação. Na maioria das vezes, o comprador pega o carro na concessionária, o que barateia custos. ?Entramos no azul com apenas seis meses no ar?, diz Glauco Lucena, gerente de conteúdo do Carsale.
Do ponto de vista do consumidor, o aumento do tíquete é um processo natural. Pesquisa feita pelo instituto de pesquisa
QualiBest com 173 usuários de Internet mostrou que apenas um terço deles já fez compras acima de R$ 100. A boa notícia é que mais de 70% estaria à vontade para ultrapassar esse valor. ?As pessoas estão perdendo o medo. Já fizeram compras menores e viram que não há grandes problemas?, diz Daniela Daud, diretora comercial do Qualibest.