02/11/2001 - 8:00
A insuficiência crônica de resultados do Banco Sudameris no Brasil esgotou a paciência dos executivos de seu grupo controlador, o italiano Intesa, maior banco de seu país. Depois de dois anos tentando encontrar discretamente um comprador para a mais problemática instituição sob seu chapéu, oferecida repetidamente aos maiores grupos financeiros do país por intermédio de um banco de investimento americano, o Intesa deu sinais de que o negócio agora pode andar. Lino Benassi, um dos dois executivos-chefes do banco italiano, admitiu publicamente estar estudando ?expressões de interesse? pela compra do Sudameris. Candidato perto de fechar o negócio ainda não há, mas sabe-se que pelo menos três grupos avaliam a aquisição ? o Unibanco, o Itaú e o HSBC. Por fora, corre uma quarta opção: um banco europeu estuda a compra de todas as operações do Sudameris, no Brasil e na América Latina. A expectativa de venda excita os ânimos no Intesa. O Sudameris e seus problemas financeiros sugaram R$ 1,2 bilhão em aumentos de capitais, e já provocaram quedas de até um terço no lucro da matriz.
A decisão de vender está tomada desde que os controladores descobriram, há dois anos, que o Sudameris não teria ganhos de escala com a então recente aquisição do América do Sul. O banco comprado tinha uma péssima carteira de crédito, um número grande de clientes inativos e uma clientela excessivamente concentrada na faixa de renda que vai de R$ 500 a R$ 1 mil por mês. A lista de clientes dos dois bancos somados dá 600 mil pessoas, segundo os prospectos distribuídos a potenciais compradores, mas os clientes
de fato ativos não vão além de 100 mil, de acordo com avaliações pessimistas feitas por instituições que analisaram os números. Com um agravante: são clientes que, por ser de baixa renda, geram
para o banco apenas um terço da receita proporcionada por
clientes que ganham mais de R$ 3 mil por mês. O dinheiro despejado pelo Intesa no banco cobriu as perdas com crédito, mas não resolveu o problema das receitas baixas e dos custos altos,
típicos de varejo. O diagnóstico foi: melhor vender do que insistir
nas injeções sem fim de capital.
Troca de ações. O Unibanco sabe de todos esses problemas, mas não afasta a possibilidade de fechar com o Intesa um acordo semelhante ao que tem com o português Caixa Geral de Depósitos, o alemão Commerzbank e o japonês Dai-Ichi Kangyo. A aquisição seria paga com ações do Unibanco, e os italianos ganhariam um departamento no banco para negociar com empresas oriundas de seu país. O Itaú também briga pelo controle. Já o HSBC espera para ver como seus rivais vão se sair. Se o preço cair, o Sudameris interessa como via para aumentar a presença do banco inglês no Estado de São Paulo. A possibilidade de um grupo europeu arrematar todo a operação do Sudameris na América Latina é a mais remota, porém a mais eficiente para o grupo italiano. O foco de seus investimentos externos, como já anunciou, deverá ser agora a Europa Oriental.