30/07/2008 - 7:00
O NOME ADHEMAR DE BARROS FILHO povoa a história da política paulista. Teve uma série de mandatos de deputado federal, foi membro da Arena, o partido oficial da ditadura militar, secretário de Estado e candidato a diversos cargos executivos. A força do nome veio do pai, figura folclórica, duas vezes governador de São Paulo e aspirante à Presidência da República em 1960. No mundo corporativo, a presença de Adhemar Filho também foi marcante. Sob seu comando estava a maior fabricante de chocolates do País e uma das marcas mais fortes do setor, a Lacta. O grupo de Adhemarzinho, como é carinhosamente chamado pelos mais próximos, chegou a faturar US$ 450 milhões antes de ser vendido para a americana Kraft, em 1996. Ocorre que essa figura emblemática enfrenta hoje um revés inesperado e mergulhou em uma situação que nada tem a ver com os tempos de glória da Lacta. Numa tentativa de retornar ao mundo dos negócios, Adhemarzinho fez uma sociedade com um amigo, brigou com ele e viu o modesto negócio que criaram ir à bancarrota. A empresa era a Banana Candy, fabricante de doces do interior de São Paulo, que chegou a ter planos de exportação para países árabes e projeto de expansão de fábricas para o Nordeste. Há um ano, ele rompeu com o sócio, Adilson Tavares de Mendonça, que lançou a marca quatro anos atrás. Os ativos ficaram com Adhemarzinho. Desde então, a fábrica está parada. “Entrei de gaiato nessa história, apenas por amizade. O fato é que me venderam gato por lebre”, desabafou ele em entrevista à DINHEIRO. “Não quero mais falar disso porque é perda de tempo.”
” ENTREI DE GAIATO
NESSA HISTÓRIA,
APENAS POR
AMIZADE. O FATO É
QUE ME VENDERAM
GATO POR LEBRE “
O caso foi parar em anúncios de jornais econômicos. O empresário publicou um curioso classificado informando que a “Candy estava órfã” e, “pelas circunstâncias que envolvem o negócio, a fábrica está sendo vendida quase a preço de banana – sem trocadilho.” Na quarta-feira 23, Adhemarzinho esteve com dois interessados. Algumas máquinas já foram vendidas. Pelos cálculos iniciais, marca e ativos valeriam hoje R$ 1,5 milhão. “Se Deus quiser, eu vendo isso até o final do ano. Se não vender, faço até doação para quem quiser”, brinca ele. O bom humor esconde um episódio, no mínimo, desagradável. Em 2004, Adhemarzinho e Mendonça, amigos de longa data, tornaram- se parceiros. O plano da Candy era saltar de um faturamento mensal de R$ 200 mil para R$ 1 milhão a curto prazo. As bases estavam estabelecidas. Havia um milhão de pés de banana plantados na fazenda da família de Mendonça, em Itariri, no Vale do Ribeira. No local, existia também uma unidade fabril, que poderia se beneficiar da mão-de-obra barata. Na época, a Banana Candy fabricava 12 produtos, entre bombons e ovos de Páscoa de banana e chocolate. Pão de Açúcar e Wal-Mart eram clientes regulares. Com o passar do tempo, no entanto, a situação mudou, conta Adhemarzinho. “Ele não declarava Imposto de Renda, não havia um controle de entradas e saídas de capital. A empresa operava com prejuízo”, diz ele. “Eu confiei e deu nisso.” A sociedade terminou de forma pouco amistosa. Procurado, Mendonça não foi localizado em Miracatu (SP), onde mora atualmente.
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EXTRA!: empresário publica texto em jornal para buscar interessados na Banana Candy. Negócio é avaliado em R$ 1,5 milhão |
Há 13 anos Adhemarzinho enfrentou uma grave crise familiar. Os filhos entraram com uma ação na Justiça alegando que ele havia omitido bens na partilha e os havia prejudicado. Isso, em meio a uma crise na Lacta. Os filhos ainda teriam repassado dados sigilosos da fabricante à Philip Morris, interessada em comprar a marca, sem Adhemar saber. Foi uma decepção gigantesca, como um “punhal nas contas”, disse ele à época. Hoje, o empresário não fala muito do assunto. Sabiamente, prefere tocar a vida sem olhar muito para trás.