Na manhã da quarta-feira 3, caiu a bomba: duas das maiores potências mundiais do segmento de material esportivo estavam se tornando uma só. A alemã Adidas comprou todas as ações da americana Reebok. O maior negócio da história do setor será consolidado até o início de 2006. A Adidas vai desembolsar (à vista) US$ 3,8 bilhões. O valor surpreendeu os analistas internacionais, pois supera em 34,2% a cotação do dia anterior das ações da Reebok nas bolsas americanas. Foi um ágio e tanto, ainda que a Adidas calcule que vá recuperar o investimento até 2008. ?Juntos poderemos expandir nossos negócios, particularmente na América do Norte?, exclamou Herbert Hainer, CEO da firma alemã. Na região, a Reebok é a segunda colocada e não a Adidas, como no resto do mundo.

Apesar de a operação ainda depender de duas instâncias de aprovação (conselho de acionistas da Reebok e autoridades reguladoras), ninguém duvida que será ratificado. O presidente da Reebok, Paul Fireman, que é proprietário de 17% dos papéis da empresa, foi o primeiro a aceitar a oferta. ?A Adidas é um parceiro perfeito para a Reebok?, disse. ?Estou orgulhoso em trabalhar com ela?. Por enquanto, nem se sabe ao certo qual será o nome da nova corporação, que vem sendo tratada como ?New Group Adidas?. Independentemente do batismo, o objetivo da Adidas sempre foi aproximar-se da líder Nike. Com a compra da número 3 do mundo, ela finalmente chega perto. Em 2004, a Nike faturou US$ 13,7 bilhões, contra US$ 8 bilhões da Adidas e US$ 3,1 bilhões da Reebok. De agora em diante, o grupo ?vice-líder? embolsa US$ 11,1 bilhões. ?Isso dá outro peso em negociações com fornecedores e distribuidores?, explica Ricardo Minelli, da consultoria M+B. A Adidas até quantifica a economia: US$ 150 milhões anuais com as sinergias no desenvolvimento de produtos e na fabricação de artigos.

O fato é que a Nike tomou um drible corporativo de sua maior rival. ?A Reebok estava ali, pertinho, vizinha da sede da Nike. Precisou a Adidas sair da Alemanha para fazer a compra!?, afirma, indignado, um fornecedor brasileiro da Nike. O que mais pesou no negócio foi o seguinte: a Reebok possui forte penetração nos EUA, em especial nos esportes de fraca participação da Adidas, como basquete, atletismo e tênis.

Mesmo diante da polarização de duas enormes companhias, que dificultaria a ação dos demais competidores, houve comemoração com a união. Gérson Schimitt, CEO de Fila, Try On e Kappa no Brasil, disse à DINHEIRO que as perspectivas são boas a curto prazo. ?A briga será travada lá no topo do mercado pelos gigantes, o que nos abre uma excelente oportunidade de crescimento?, disse. E depois? ?Será bem mais difícil. Eles devem uniformizar fornecedores para otimizar custos. Temos que aproveitar agora?, comenta Schimitt. Na produção de tênis, por exemplo, seguindo esse raciocínio, a Paquetá, que fornece para a Adidas, e a Grendene, que fabrica para a Reebok, devem disputar em teoria uma única vaga no futuro. Qual das duas ficaria de fora? Procurados por DINHEIRO, os diretores das empresas não foram encontrados. E isso não é tudo. Na outra ponta do negócio, a Adidas também tem tudo para incrementar as vendas. Ao distribuir seus artigos para as lojas esportivas, a força conjugada de duas marcas é um trunfo e tanto para exigir espaços nobres nas vitrines e, até, a possibilidade de acordos de exclusividade. ?Não será fácil segurá-la?, conclui o consultor Ricardo Minelli. A Nike torce para que ele esteja errado.