21/09/2005 - 7:00
Até pouco tempo atrás, a disputa entre os fabricantes de material esportivo se limitava à criação de roupas e calçados capazes de aumentar a performance dos atletas. Ganhava mais prestígio (e milhões de dólares) quem conseguisse ajudar os esportistas a quebrar recordes nos campos de futebol, nas arenas de basquete e nas pistas de atletismo. Desde o final da década de 90, entretanto, os executivos do setor passaram a prestar atenção em outro tipo de consumidor: a moçadinha descolada com pouca ou nenhuma intimidade com os esportes, mas que faz questão de andar na moda. O resultado do trabalho da alemã Adidas nessa área pode ser conferido no número 1.054 da rua Oscar Freire ? situada no coração dos Jardins, bairro nobre de São Paulo. É lá que funciona, desde a segunda-feira 12, a primeira loja-conceito da grife na América Latina. Ela tem 750 metros quadrados e exigiu investimento de US$ 1,3 milhão. O projeto é inspirado na filial do Soho, em Nova York. Na fachada e no interior predomina a cor preta, suavizada pelas famosas três listras, em branco, que percorrem o teto. O sinal verde da matriz para a abertura da unidade ? são apenas 20 dessas no mundo ? é um prêmio pelo bom desempenho da filial. ?Nossas receitas vêm crescendo acima de 40% ao ano, desde 2002?, celebra Marcelo Ferreira, presidente da Adidas do Brasil. Segundo estimativas não oficiais, as vendas da marca devem atingir R$ 500 milhões em 2005. No mundo, são US$ 11 bilhões.
É verdade que a Adidas chega atrasada nessa corrida. Na década passada, sua compatriota Puma apostou no mundinho fashion para renascer. Hoje, metade de seu faturamento global, de US$ 3 bilhões, é obtido com as peças da linha Lifestyle. Ela foi pioneira também no Brasil, onde implantou uma loja em 2003. Hoje tem cinco e vai inaugurar mais duas, no Rio de Janeiro e Recife, até o final do ano. José Couto, diretor de marketing da Puma, se diz tranqüilo em relação aos movimentos da rival Adidas, cuja boutique fica a menos de 100 metros da sua. ?Tem espaço para todos?, diz. ?Trata-se do melhor ponto de comércio de rua do País?, acrescenta. A Oscar Freire aparece em oitavo lugar no ranking das ruas mais sofisticadas do mundo. E é por isso que a americana Nike também a escolheu para instalar, em outubro, a primeira de cinco Nike Store programadas para o Brasil.
Para tentar recuperar o tempo perdido, a Adidas conta com alguns trunfos. Um deles é a parceria com a estilista Stella McCartney. Filha do ex-Beatle Paul McCartney e queridinha da moda européia, ela vai desenhar coleções para a marca alemã. O outro é a vinculação com ícones da cultura pop como a rapper Missy Elliott ? musa da coleção Respect Me, que tem fortes elementos da cena hip hop. São peças desse tipo que ocupam o maior espaço nos dois andares da loja paulistana. A linha Originals, de inspiração retrô, também está presente, ao lado de bolas, tênis e agasalhos. O tíquete médio de vendas é estimado em R$ 500.
Mas esse modelo de negócio não significa uma ?concorrência desleal? com as lojas de calçados e artigos esportivos tradicionais que até agora sustentaram o crescimento da marca no País? Ferreira diz que não. ?Nossa prioridade continuará sendo esse lojista?, garante. A única diferença é que as peças com preços mais elevados, das linhas exclusivas, vão debutar na Oscar Freire. ?É uma forma de chamar a atenção de um público sofisticado e com elevado poder de compra?, justifica. Para a consultora de varejo Heloísa Omine, esse tipo de estratégia ajudou a consolidar a liderança mundial da Nike. ?Uma marca só consegue crescer quando se torna o objeto de desejo dos chamados formadores de opinião?, avalia ela.
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R$ 500 deve ser o tíquete médio do novo espaço |