29/05/2002 - 7:00
A crise bancária na Argentina está chegando perto de seu desfecho. Depois de meses falando em deixar o país, os bancos estrangeiros começaram a cumprir a promessa. Primeiro foi o canadense Scotiabank, fechado por falta de dinheiro para pagar os correntistas. Em seguida, o governo decretou a intervenção em três outros bancos, depois que o controlador das instituições, o francês Crédit Agricole, anunciou que não ia mais cobrir as perdas no país. O próprio ministro da Economia, Roberto Lavagna, indicou que o pior está por vir ao dizer que o sistema financeiro está ?sobredimensionado?.
O problema dos bancos na Argentina está se agravando no mesmo ritmo em que a população bate panelas para exigir a liberação de suas economias, presas no corralito. Não há dinheiro para entregar para a população. Uma dimensão de falta de recursos pode ser dada pelo caixa do governo. Enquanto a Argentina tem US$ 12 bilhões em reservas, os depósitos bancários somam o dobro desse valor. Uma alternativa para pagar os correntistas seria colocar a máquina de imprimir pesos para funcionar, mas esse é o caminho certo para a hiperinflação. Outra opção seria emitir bônus prometendo pagamento no futuro, mas há uma enorme resistência por parte da população.
?É pouco provável que o povo aceite e que o Congresso aprove a troca das economias por bônus?, diz Walter Mendes, diretor para a América Latina da Administradora de Recursos Schroders, do Reino Unido. ?O corralito virou uma armadilha para os bancos e para a economia argentina.? No meio do caminho está o cada vez mais enfraquecido presidente Eduardo Duhalde. Na semana passada, ele ameaçou renunciar caso as províncias não aceitassem um acordo para redução do déficit público como exige o FMI. Duhalde não renunciou e prometeu anunciar uma solução para o corralito na semana que vem. Seja qual for a idéia de Duhalde, uma coisa é certa. Mesmo que o presidente não traga uma solução, aos poucos o confisco bancário está se desmanchando. Assim como ocorreu no Plano Collor, a Justiça ou o próprio governo estão liberando dinheiro, atendendo às pressões políticas.
?Com a abertura dessas torneiras, aumentou o dinheiro na economia, a inflação já chegou a 20% no ano e os bancos estão cada vez mais sem recursos?, diz Maristella Ansanelli, economista da consultoria Tendências, responsável pelo acompanhamento da situação na Argentina. Como vários bancos estrangeiros anunciaram que não estão dispostos a colocar mais dinheiro no país, o governo terá de pensar numa alternativa rapidamente. Na avaliação dos analistas financeiros, é possível que alguns bancos deixem a Argentina e o governo encampe o que sobrou deles. Seria pouco provável, porém, que instituições com forte presença no resto da América Latina, como os espanhóis Santander e BBV, ou o brasileiro Itaú, corressem o risco de verem suas imagens corroídas por desistir do país. A solução mais provável para a economia parece, cada vez mais, uma nova mudança de governo. ?É voz corrente entre os analistas argentinos que deve ocorrer uma eleição de um governo com maior respaldo político para tirar o país da crise?, diz Mendes, da Schroders.