01/12/2004 - 8:00
A gastronomia virou estilo de vida. Deixou a cozinha de restaurantes reputados e entrou na sala de estar das residências. Para fugir da rotina ?arroz-com-feijão?, há quem, de algum tempo para cá, contrate professores particulares de culinária para ensinar as cozinheiras domésticas a sofisticar o cardápio. ?Normalmente, as clientes me pedem para ensinar receitas que experimentaram em restaurantes e gostariam de fazer em casa?, diz o chef paulistano Ricardo Cunha. Da parceria nascem pratos como a sopa de abóbora perfumada com gengibre, a terrine de legumes ao molho pesto, o nhoque de semolina com ragu de cogumelo e o creme brulé perfumado com canela e laranja. São nomes pomposos de receitas, a rigor, simples. Cunha chega a cobrar R$ 1,5 mil por um dia de aula. Um outro craque, Danilo Miyabara, também de São Paulo, revela os segredos dos sushis e sashimis ao longo de quatro horas por R$ 150. Eles são uma espécie de personal-trainer de panelas e talheres.
O aprendizado pode começar no mercado, com a procura de ervas e especiarias pouco difundidas. ?Esse conhecimento as torna mais independentes diante do fogão?, afirma Cunha. Na bancada, o principal é apurar o paladar. ?Elas sabem cozinhar muito bem, mas sempre digo que é preciso experimentar a comida. Não é pela quantidade ou pelo tempo indicados na receita que devem se basear, mas sim pelo sabor.? Com a palavra, Marinalva da Silva Santana, dez anos de profissão, pupila de Cunha. ?Ele ensina pratos simples, mas muito chiques?, resume. Para ela, a grande diferença está no tempero. ?O meu é muito forte, enquanto o dele é mais suave?, diz. ?Aprendi a usar alecrim e pimenta da Jamaica em vez de alho.?
E como se trata de impor novo ritmo gastronômico na vida da família, cabe também saber que resultados brotaram do curso para a dona da casa, que contratou Marinalva e, recentemente, o chef. ?Ela cozinha muito bem, mas queria apresentá-la a receitas mais sofisticadas para servir nos jantares que costumo fazer em casa para os amigos?, afirma Roberta Silberberg. ?Já fiz alguns cursos de culinária, mas é sempre difícil passar à frente o que aprendi. Com o chef, a Marinalva se entendeu muito melhor.? A vantagem dessa iniciativa que agora se espalha em São Paulo e Rio é a possibilidade de personalizar o cardápio, o que faz toda diferença.