Um adolescente de 16 anos disse à polícia ter matado a contadora Kaianne Bezerra Lima, de 35 anos, assassinada com golpes de porrete, na noite de 26 de agosto, em Aquiraz, no Ceará. Ele declarou que o crime foi encomendado pelo marido da vítima, o professor Leonardo Nascimento Chaves, de 41 anos. Inicialmente tratado como latrocínio (roubo seguido de morte), o caso agora é investigado como feminicídio.

No depoimento à Polícia Civil, o jovem deu detalhes sobre o crime. Segundo a investigação, Chaves pretendia receber um seguro de vida no valor de R$ 60 mil que a contadora havia feito um mês antes do crime. A defesa do professor afirma que ele também é vítima e nega participação no assassinato da mulher.

O marido e os dois investigados como executores estão presos. Conforme a polícia, o marido não só teria preparado os porretes que seriam usados no crime, como ajudado os executores a forjarem um cenário de latrocínio, carregando até o carro objetos roubados (televisores) da casa.

Para completar a possível encenação, Chaves foi amarrado e agredido pelos suspeitos. Quando foi libertado, após o crime, teria se apressado a fazer exame de corpo de delito, para que sua condição de vítima fosse evidenciada durante a investigação.

Conforme a polícia, a contadora assistia televisão quando o adolescente de 16 anos e o outro executor – o motorista de aplicativo Adriano Andrade Ribeiro, de 39 – chegaram à casa. Enquanto Adriano teria simulado a agressão ao marido e o amarrava no quarto do fundo, o menor teria ido diretamente ao quarto onde Kaianne estava.

Achando que se tratava de assalto, a vítima não teria reagido e falado para que levassem o que quisessem. O adolescente contou ter usado um porrete de madeira para agredir a mulher na cabeça, causando a morte.

Segundo a confissão do menor, o professor orientou sobre os itens que deveriam ser roubados: as alianças do casal, um anel que a esposa usava, os televisores, eletrodomésticos, bebidas e perfumes. Antes, ele deu a senha para que os assassinos agissem, saindo ao jardim para regar as plantas. Nesse momento, as câmeras do sistema de segurança da casa estavam desligadas.

Após o crime, em que inicialmente também figurou como vítima, Chaves teria simulado o luto e participou de velório e sepultamento com familiares de Kaianne.

O caso deu uma reviravolta quando a polícia teve acesso a imagens do estacionamento de um shopping, as quais mostravam um encontro do professor com os executores de sua mulher. A conversa, cerca de uma hora antes do crime, durou aproximadamente 10 minutos.

Três dias após o crime, a polícia prendeu o motorista de aplicativo que ainda guardava em sua casa, em Fortaleza, dois celulares e uma panela de pressão da vítima. No mesmo dia, foi feita a apreensão do menor.

Como os dois tinham usado no deslocamento o carro de aplicativo com GPS de Adriano para ir à casa da vítima, foi possível chegar ao encontro entre o mandante e os executores e transformar a tese do latrocínio em feminicídio. A descoberta do seguro feito pela mulher e da passagem para Portugal adquirida pelo marido – supostamente para fugir do país – fecharam o ciclo da apuração.

Uma cláusula do seguro previa que o valor de R$ 30 mil dobrava em caso de morte violenta. Segundo a Polícia Civil, ficou clara a participação do marido como mandante, mas a investigação prossegue para entender a motivação.

Familiares relataram que Kaianne revelara intenção de se separar do marido, considerado perdulário com as finanças da casa. O depoimento do menor também apontou que Leonardo teria dívidas com uma organização criminosa, o que ainda é investigado.

Leonardo Chaves vai responder pelo crime de feminicídio. Adriano responderá por homicídio qualificado e corrupção de menores, devido à participação no crime em conluio com menor de idade. Já o adolescente responde por ato infracional análogo ao crime de homicídio qualificado.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do adolescente e ainda aguarda retorno do defensor de Adriano. A defesa de Chaves disse que ele nega qualquer participação na morte da esposa e que também foi vítima dos criminosos que invadiram sua casa, o que será provado durante o transcurso do processo.