Pela primeira vez na história, um “robô” vai ser usado para substituir um advogado e aconselhar o réu durante audiência de um tribunal. Segundo o site americano New Scientist, em fevereiro deste ano, uma inteligência artificial (IA) será executada em um smartphone e participará da audiência, ajudando a instruir o réu sobre o que dizer, por meio do fone de ouvido.

A localização do tribunal e o nome do cliente estão sendo mantidos em sigilo pela DoNotPay, empresa que criou a IA. Mas revelou ao site que o réu está sendo acusado de excesso de velocidade e que receberá as instruções do “robô” pelo headset. O caso está sendo considerado um teste pela empresa, que se comprometeu a pagar eventuais multas, diz o fundador da DoNoPay, Joshua Browder.

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Claro que usar celular ou computador, ainda mais conectados a um dispositivo intra-auricular dentro de um tribunal é considerado ilegal em muitos países, mas a empresa encontrou um local que permite essa configuração, revela Browder ao New Scientist. “Está tecnicamente dentro das regras, mas não acho que esteja no espírito das regras”, completa.

Segundo o empresário, a IA foi usada recentemente para intermediar o contato com o serviço de atendimento ao cliente em um banco e teria conseguido reverter, sozinha, com sucesso várias taxas bancárias.

“É a coisa mais alucinante que já fizemos. Foram apenas US$ 16 [R$ 84] que revertemos, mas esse foi um trabalho perfeito para a IA. Quem tem tempo a perder por US$ 16?”, diz Joshua Browder ao site americano.

A DoNotPay foi lançada em 2015 como serviço de chatbot relativamente simples que fornecia aconselhamento jurídico, especialmente na área de consumo, usando muita conversa padronizada. A empresa começou a se concentrar mais na IA em 2020, quando a plataforma OpenAI lançou uma interface de programação disponível ao público para que as pessoas usassem as habilidades do GPT-3, a inteligência artificial de processamento de linguagem.

Browder diz que demorou muito para “treinar” o “robô” DoNotPay com as inúmeras leis e jurisprudências necessárias para torná-lo útil. O aplicativo de IA da empresa agora cobre vários tópicos jurídicos, incluindo lei de imigração. Ao New Scientist, o empresário diz que sua IA teria ajudado em cerca de três milhões de casos nos EUA e no Reino Unido.

A ferramenta de escuta também foi ajustada para não reagir sempre e automaticamente às declarações. “Às vezes, o silêncio é a melhor resposta”, brinca Browder. De acordo com ele, o objetivo é fazer com que o software eventualmente substitua a necessidade de advogados.

“É tudo uma questão de linguagem, e é para isso que os advogados cobram centenas ou milhares de dólares por hora. Ainda haverá muitos bons advogados por aí que podem trabalhar no Tribunal Europeu de Direitos Humanos, mas muitos estão cobrando dinheiro para copiar e colar documentos e acho que eles definitivamente serão substituídos. Eles devem ser substituídos”, comenta o fundados da DoNotPay ao site americano.