O Aeroporto Internacional de Guarulhos passa a contar com novos equipamentos de inspeção de passageiros, que incluem escaneamento corporal capaz de detectar materiais não metálicos e tecnologia de identificação de explosivos. A chegada do maquinário resulta de uma parceria do aeroporto com os Estados Unidos, que doaram os aparelhos por meio de um memorando firmado em 2023. Nos EUA, 440 aeroportos já utilizam esse mesmo tipo de sistema de triagem.

Os novos aparelhos são: raios X de visão dupla, tecnologia avançada de imagem (AIT – body scanner) e detecção de traços de explosivos. Eles são operados no Terminal 3, de onde partem os voos internacionais, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

A doação, no valor de US$ 2 milhões, foi feita pela Administração de Segurança de Transporte dos Estados Unidos (TSA, na sigla em inglês), divisão do Departamento de Segurança Interna do governo norte-americano. “O projeto tem como objetivo aumentar a segurança da aviação, reduzir riscos e reforçar a proteção dos passageiros que embarcam em Guarulhos”, disse a Anac.

A operação dos aparelhos ocorrerá de forma gradual. As equipes de segurança do aeroporto passam por treinamento com acompanhamento presencial de agentes da TSA e de profissionais da Anac. A promessa é de que os equipamentos agilizem as fiscalizações – já que apontam para o local exato do corpo onde está o item irregular – e proporcionem maior segurança por serem mais assertivos para detectar os objetos proibidos. Além disso, são apresentados como menos invasivos, por prescindirem de toques físicos, e mais inclusivos, uma vez que permitem uma inspeção mais rápida e confortável de pessoas com mobilidade reduzida ou com equipamentos implantados pelo corpo.

O Aeroporto Internacional de Guarulhos, o maior do Brasil, é o segundo da América do Sul a contar com esse novo sistema. O primeiro foi o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, no interior paulista. Lá, a nova tecnologia é operada desde janeiro. Segundo Wesley Ramos Corrêa, gerente de segurança de Viracopos, os aparelhos instalados em Guarulhos “são idênticos” aos de Campinas, e se diferem apenas pelo fabricante.

COMO SÃO OS APARELHOS. O sistema de escaneamento corporal faz a coleta dos dados por meio da leitura dos reflexos de ondas milimétricas na pele. Esse equipamento detecta todos os objetos, e não só metal, como nas triagens convencionais dos pórticos detectores de metal. Além disso, a inspeção é mais ágil, com tempo de digitalização de 1,5 segundo, o que permite o processamento de 200 a 300 pessoas por hora. Por ser mais sensível, a máquina exige ainda que passageiros separem alguns pertences antes da vistoria.

Já o raio X de visão dupla é utilizado para a inspeção das bagagens que vão no avião. A tecnologia é capaz de mostrar o conteúdo em alta qualidade e de detectar explosivos, armas, drogas e outros objetos escondidos em itens dentro de bolsas, malas e mochilas. Além de serem em alta definição, as imagens apresentam uma discriminação dos materiais por código de cores, o que ajuda os operadores a identificar visualmente ameaças e itens de interesse, incluindo armas e drogas.

O detector de explosivos é capaz de acusar a presença de traços muito pequenos – em partes por trilhão, no caso de vapores, e em nanogramas, no caso de partículas explosivas. O aparelho foi projetado para identificar resíduos de explosivos em superfícies, que podem ser roupas, pacotes, computadores e mãos, entre outros objetos.

RESULTADO EM CAMPINAS. No Aeroporto de Viracopos, os equipamentos completaram sete meses de operação no último dia 24. Por lá, foram instalados três scanners corporais, cinco máquinas de raio X de visão dupla e seis detectores de traço explosivo.

Corrêa, gerente de segurança, explica que os passageiros passam pelo body scanner e têm as bolsas e mochilas inspecionadas no raio X de visão dupla. Se necessário, os agentes do aeroporto fazem o monitoramento com o detector de traço explosivo nas bagagens ou nos próprios passageiros. Os scanners corporais, diz ele, são mais eficientes do que os antigos pórticos de metais porque não captam só materiais metálicos, mas também líquidos, cerâmicas e remédios.

Corrêa também destaca a precisão da tecnologia. “Se tiver ali, por exemplo, um medicamento no bolso, ele vai apontar para aquele local exato. E eu vou fazer a busca só naquela região”, conta. Segundo ele, os novos equipamentos aumentaram em 90% a quantidade de objetos apreendidos e, com o body scanner, está sendo possível inspecionar até 300 passageiros por hora. “Com o antigo pórtico de detector de metal, era na ordem de 180.”

LÍQUIDOS NA MALA DE MÃO. O uso do novo equipamento de inspeção não muda as orientações sobre o transporte de líquidos em voos internacionais. No Brasil, o padrão do transporte de líquidos é definido pela Resolução Anac nº 515/2019, que traz as seguintes orientações: todos os líquidos devem ser conduzidos em frascos com capacidade de até 100 ml; líquidos conduzidos em frascos com volume acima de 100 ml não podem ser transportados, mesmo se o frasco estiver parcialmente cheio; todos os frascos devem ser colocados em uma embalagem plástica transparente, que possa ser fechada, contendo capacidade máxima de 1 litro, e devem estar dispostos com folga dentro da embalagem fechada; a embalagem plástica deverá ser apresentada para inspeção visual no ponto de embarque de passageiros, sendo permitida apenas uma por passageiro.

A agência acrescenta ainda que o passageiro que apresentar produtos líquidos em desacordo com as regras poderá procurar a companhia aérea e despachar esses itens caso não consiga regularizar sua situação na inspeção.