18/02/2004 - 7:00
Do seu escritório, no 14º andar do número 1.337 da Avenida Paulista, no centro financeiro de São Paulo, o industrial Claudio Vaz avista seu objetivo: o escritório do 14º andar do prédio vizinho, o número 1.313 da Paulista. Ali funciona a presidência a Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. A sala é ocupada hoje em dia por Horácio Lafer Piva, cujo mandato termina em setembro. Vaz pretende ocupar seu lugar. Por isso na segunda-feira 9 ele saiu oficialmente em busca dos votos da produção. Apoiado por Piva, que tem a estima e o respeito de boa parte do empresariado paulista, Vaz reuniu 1.070 empresários no Hotel Sheraton para lançar sua plataforma de ação. O documento de 27 páginas, escrito em linguagem direta e agressiva, está repleto de considerações sobre juros, crescimento e política industrial. Aborda temas caros aos empresários como redução de carga tributária e dos spreads bancários. E conclama os empresários ? e também os trabalhadores ? para participarem da discussão de acordos comerciais. ?É urgente que as forças da produção se unam, pois só elas têm a capacidade objetiva de reverter este quadro, independentemente de representarem capital ou trabalho?, diz o documento. Perpassa o documento algo freqüente no discurso industrialista do candidato: uma crítica aberta e contundente ao financismo que domina a economia brasileira. ?Os bancos se aproveitam de uma situação confortável, com a alta remuneração oferecida pelos títulos do governo, em vez de se arriscar com a produção?, disse ele, enfaticamente, do alto do elegante palanque do Sheraton.
Com seu jeito professoral, Vaz estava ali, também, para marcar diferenças em relação a Paulo Skaf, seu principal opositor. De acordo com pesquisa realizada por DINHEIRO semanas atrás, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil tem 44% das intenções de voto da Fiesp, enquanto Vaz começa com 32%. Skaf se apresenta como líder empresarial carismático, com forte atuação política ? e, ao mesmo tempo, sugere que Vaz é um tecnocrata sem liderança. Frente a isso, a grande missão de Vaz é convencer o eleitorado de que ele é tanto um líder político eficaz quanto um interlocutor técnico. ?Ser político não é sinônimo de ser personalista ou vaidoso. Não precisa estar todos os dias no jornal para defender os interesses da indústria com eficiência?, diz Vaz. ?Trabalhar com discrição não é igual a buscar auto-promoção.? Nessa batalha, o candidato terá ajuda de Piva, que o escolheu como sucessor pelo que considera suas virtudes de negociador. ?Precisamos de alguém com estofo técnico e não de liderança a qualquer preço?, diz o atual presidente da Fiesp.
Autopeças. Aos 55 anos, Vaz é oriundo de um dos mais tradicionais redutos da indústria paulista: o setor automobilístico. Começou sua carreira em 1970 como executivo do Grupo Arteb. Doze anos depois comprou seu próprio negócio, uma empresa que desenvolvia componentes metálicos para a fabricação de artefatos em couro. Dali, comprou outras empresas e se associou à Univel, que se tornou o principal fabricante nacional de peças para portas de veículos, como maçanetas e fechaduras. Ao crescer, Vaz também se tornou um dos líderes empresariais da cadeia automotiva. Foi presidente do Sindipeças de 1992 a 1994 e nessa posição obteve proximidade com figuras sindicais como Luiz Marinho e Vicentinho. Vaz costuma contar com orgulho que subiu em um carro de som do Sindicato dos Metalúrgicos em plena Praça da Sé, no Centro de São Paulo, para pedir o impeachment de Collor. Mas no currículo empreendedor de Vaz há uma cena de retirada. Em 1997, ele anteviu a crise do setor de autopeças e vendeu sua participação na Univel para o grupo francês Valeo. Costuma dizer que não tinha outra alternativa: ?Se eu não vendesse, eles se instalariam no Brasil para concorrer comigo. Não havia jeito.? Por conta disso, Vaz é acusado de não ser mais industrial ? o que é falso. Ele detém participações em duas empresas menores do setor de autopeças. É o seu pé na indústria. ?Não sou rico, mas o que tenho vem da produção?, afirma. Carioca, economista formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ele dirige o próprio carro (um Passat, modelo alemão), embora tenha direito a carro com motorista pela Fiesp. Gosta de ir ao teatro, mas reconhece que nos últimos tempos não confere as novidades dos palcos. Vaz é casado e pai de uma moça de 22 anos. Jura que não é metódico, mas não marca compromisso nenhum sem antes checar seu Palm ? e é capaz de explicar, em minúcias de engenheiro entusiasmado, o funcionamento de uma máquina que produz tubos para ar-condicionado de automóveis. Lembra-se de seus endereços e números telefônicos dos anos 70. Não é escravo da tecnologia, já que escreveu a mão, com sua Pentel 0,7 mm, a primeira versão de sua plataforma de campanha. Superstição ou pura praticidade, o fato é que Vaz fincou o escritório de campanha no mesmo prédio em que Piva mantinha seu QG em 1998. Será que Vaz também se mudará para o prédio vizinho?
Os dez mandamentos de Vaz
Conheça os principais da plataforma
1 Redução dos juros e do spread bancário, a fim de que o custo dos créditos não seja superior a 8% ao ano.
2 Desoneração das exportações e taxação das importações com a mesma carga da produção interna.
3 Redução progressiva na carga tributária até alcançar o patamar de (pelo menos) 30% do PIB.
4 Vaz quer ampliar as cooperativas de crédito. Esse trabalho foi iniciado na administração de Piva
5 Livre acesso aos mercados desenvolvidos e fim de regras de salvaguarda, antidumping e subsídios agrícolas.
6 Aumento de investimento em pesquisa para ampliação de resultados, o que estimularia investimentos da indústria.
7 Promoção de uma política industrial ativa e horizontal, centrada no adensamento das cadeias produtivas.
8 Mudança na legislação do trabalho para estimular contratações e maior liberdade de negociação.
9 Criação de assessoria jurídica para ajudar os sindicatos filiados à Fiesp durante a reforma sindical.
10 Descentralizar o poder dentro da Fiesp, com a criação de conselhos de representação industrial e estratégico.