O austero ambiente do restaurante Leopolldo, em São Paulo, foi agitado na manhã da segunda-feira 3, enquanto o publicitário Nizan Guanaes gritava ao microfone frases de comemoração, e até alguns bons palavrões, para anunciar aos funcionários que uma de suas empresas, a Africa, havia sido escolhida a melhor agência estrangeira pela prestigiada publicação americana Advertising Age. Depois de muito barulho, os festejos foram transferidos para o escritório da empresa, no 22º andar do mesmo prédio, na elegante avenida Faria Lima, em São Paulo. A comemoração durou o dia inteiro, que foi decretado feriado na agência de publicidade. 

 

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Dia de festa: os sócios da agência (no sentido horário), Olivia, Santoro, Vieira, Gordilho e Guanaes

 

O ambiente, ao fim da quente tarde de fevereiro, lembrava mais o de um badalado espaço de festas do que o de um escritório. Havia cervejas da cliente Ambev, hot dogs e pessoas por todos os lados, de funcionários, com seus amigos e familiares, a executivos de anunciantes e de veículos de mídia. Muitos deles estavam vestidos com camisetas com a inscrição ?I am foda?. ?Já vivi dias históricos e muitas vezes não desfrutei deles, mas desta vez quis parar a empresa inteira para mostrar a importância disso e para que sempre nos lembrássemos da data?, afirmou Guanaes, sócio-fundador da Africa e do grupo ABC. 

 

?Esse prêmio é um divisor de águas para a agência e para o mercado brasileiro.? Tamanha comemoração pode ser explicada pela competição acirrada enfrentada pelos concorrentes ao prêmio. A revista americana escolhe anualmente uma empresa de fora dos EUA para receber a honraria, e em uma única ocasião uma brasileira foi agraciada com essa láurea. Nos 30 anos de existência da premiação, apenas a AlmapBBDO já havia sido contemplada, há exatos 14 anos. Em comparação, no mesmo período, por oito vezes o título de melhor agência do ano foi dado a uma brasileira, no Festival de Cannes, o mais importante evento da publicidade mundial. 

 

?É a premiação de um trabalho consistentemente criativo?, diz Guanaes. ?Na DM9, lutamos muito para conquistar esse prêmio, mas nunca conseguimos.? Foi no comando da DM9 ? hoje uma das empresas ligadas ao grupo ABC, associado à americana DDB ? que o empresário baiano despontou para a publicidade nacional, nos anos 1990. A Africa foi fundada, em 2002, por Guanaes em sociedade com os publicitários Sérgio Gordilho, Olivia Machado, Luiz Fernando Vieira e Márcio Santoro. Como forma de se diferenciar dentro do mercado brasileiro, que sempre foi bastante voltado às conquistas de prêmios internacionais, uma das decisões adotadas pela agência foi a de não inscrever seus trabalhos nesse tipo de disputa. 

 

Só nos últimos tempos a agência reviu essa posição, e de forma estratégica. ?Há cinco anos, começamos a disputar em Cannes, apenas com campanhas digitais, uma área que queríamos desenvolver?, diz Gordilho, copresidente e diretor-geral de criação da Africa. ?No ano passado, passamos a participar dos prêmios de inovação, porque criamos um departamento, a Africa Lab, que desenvolve produtos para os clientes.? A estratégia deu resultado. Entre os trabalhos mais destacados da agência, e que chamaram a atenção da Advertising Age, estão as campanhas de internet feitas para o banco Itaú e para a P&G, que registraram as maiores audiências online no Brasil. 

 

Os trabalhos para o banco incluem um vídeo que mostrava um bebê rindo ao ver papel sendo rasgado, que foi o segundo comercial brasileiro mais assistido no YouTube em 2012, além de uma campanha para a Copa do Mundo na qual o Brasil se transforma em um grande estádio de futebol. Já os trabalhos para a P&G levaram a um grande sucesso para a marca de xampus Head & Shoulders, que tinha pouco reconhecimento no País. A sacada foi transformar o folclórico técnico de futebol Joel Santana em um apresentador de tevê, falando no seu estranho dialeto que mistura inglês e português. Com isso, a ação atraiu 24 milhões de visualizações desde julho de 2013.

 

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