Sem perspectivas de mudanças no ritmo do afrouxamento monetário pelo Banco Central do Brasil (BC), analistas preveem que o processo de desinflação deva perdurar por um período no Brasil, ainda que haja alguns sinais de riscos levantados pelo resultado do IPCA no último mês de dezembro de 2023.

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A inflação oficial do País terminou o último ano abaixo do teto da meta depois de dois anos seguidos de estouro, mas tanto o resultado do IPCA de dezembro quanto aquele calculado em 12 meses ficaram acima das expectativas.

Em dezembro o IPCA avançou 0,56%, contra expectativa em pesquisa da Reuters de 0,48%, subindo no ano 4,63%, acima dos 4,54% esperados.

“Do ponto de vista qualitativo, a leitura não foi favorável. A piora na média dos núcleos sugere um cenário desinflacionário menos consistente no curto prazo”, avaliou Igor Cadilhac, economista do PicPay.

O maior impacto no último mês do ano foi exercido pelo grupo de Alimentação e Bebidas, com alta de 1,11%, resultado atribuído ao aumento da temperatura e efeitos climáticos relacionados ao fenômeno El Niño, que segue no foco.

“O grupo alimentação no domicílio foi bastante impactado pelo agravamento do El Niño no final de 2023, e esse efeito deve trazer perturbação também no começo de 2024”, alertou Leonardo Costa, economista da gestora ASA Investments.

A inflação de serviços, que o BC acompanha de perto diante de um mercado de trabalho aquecido, também fica no foco, já que segue em patamares elevados. Somente em dezembro esse índice subiu 0,60%, terminando o ano com alta acumulada de 6,22%.

“De modo geral, o resultado da inflação em dezembro não foi muito animador, ainda assim, há sinais de continuidade do processo de desinflação, mas alguns sinais de risco começam a aparecer no horizonte, principalmente a aceleração dos núcleos e da inflação de serviços”, destacou André Cordeiro, economista-sênior do Inter.

Essas questões, no entanto, ainda não devem motivar uma mudança nas expectativas para a condução da política monetária, de acordo com analistas e também com a precificação do mercado.

“Achamos que o BC deve manter o ritmo de cortes em 0,5 p.p. por reunião do Copom, lembrando que a nossa projeção segue em 9% ao fim do ano”, disse Julio Hegedus, economista da Mirae Asset Brasil.

De fato, expectativas implícitas em contratos futuros de juros mostravam quase 100% de chance de o BC repetir corte de meio ponto percentual em sua reunião do final de janeiro, com operadores também precificando uma redução de mesma magnitude para o encontro de março.

Para maio, há expectativa implícita de corte de 0,44 ponto percentual e, para junho, redução de 0,46 ponto — na prática, uma indicação de que a maior parte do mercado também espera manutenção do ritmo de flexibilização nessas duas reuniões.

“O resultado (do IPCA) não altera o plano de voo do BC para as próximas decisões do Copom, mas coloca cautela adicional em parte do mercado que aposta em aceleração no ritmo de cortes na taxa de juros”, disse Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual.

Em seu ciclo de afrouxamento monetário, o BC fez quatro cortes de 0,5 ponto percentual na Selic, reduzindo-a ao patamar atual de 11,75%, e já indicou novas reduções pela mesma magnitude.

A pesquisa Focus mais recente mostra que a expectativa do mercado é de que a Selic termine 2024 a 9,0%, com a inflação em 3,90% — a meta para este ano é de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual.

Nesta quinta-feira, após a divulgação do IPCA, o dólar caía frente ao real e o Ibovespa rondava a estabilidade, embora esse comportamento fosse norteado principalmente por dados de inflação norte-americanos que não ficaram muito acima das expectativas em dezembro.