Em quatro anos, a Afya tornou-se o maior grupo educacional de medicina do País. Desde 2019, a empresa adicionou 1.711 vagas de graduação, chegando a 3.163. Já o Ebitda foi de R$ 300 milhões para atuais R$ 961,9 milhões. O salto foi motivado por um IPO (oferta inicial pública de ações) realizado na Nasdaq, nos Estados Unidos, em 2019, pela compra do controle acionário pelo grupo alemão Bertelsmann, que hoje detém 41.5% das ações e por uma estratégia de aquisições. Foram 30 desde 2017, que vão de faculdades e instituições de educação continuada até healthtechs.

Com o sucesso na vida acadêmica e uma janela de oportunidade aberta com a pandemia, a Afya passou a investir em soluções de tecnologia para o mercado. A ideia é atender toda uma cadeia, que começa nos médicos, mas que trabalhe com as farmacêuticas e beneficie os pacientes. As soluções digitais geram R$ 189,9 milhões em receita e a expectativa é que chegue a R$ 1 bilhão até 2028. Em 2022, a Afya reportou receita de R$ 2,3 bilhões, crescimento de 32,3% comparado a 2021. Com uma presença digital para ser consolidada e uma atuação na área de educação com possibilidade de crescimento, o futuro parece promissor. O objetivo é fechar 2023 entre R$ 2,75 bilhões e R$ 2,85 bilhões de receita e Ebitda ajustado entre R$ 1,1 bilhão e R$ 1,2 bilhão, crescimento de quatro vezes quando comparado ao cenário do IPO em 2019.

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“Entendo que você tem que criar os incentivos corretos para ter uma atenção primária e secundária de serviço de saúde para a população” Virgilio Gibbon CEO da Afya.

As investidas na tecnologia tiveram grande motivação nas transformações que a pandemia trouxe para a carreira médica. A possibilidade da telemedicina e a digitalização da profissão abriu espaço para investimento, com o benefício de já ter uma base de clientes com a graduação. Virgilio Gibbon, CEO da Afya, comemora os avanços. “Se a gente não se aproximasse do que estava acontecendo na indústria com a transformação digital, a gente teria cursos desatualizados com relação às novas práticas.” Para iniciar esse processo, a Afya também foi às compras e adquiriu 12 empresas. Hoje, seus serviços digitais incluem soluções para a indústria farmacêutica, possibilitando aproximação maior com profissionais e estudantes e facilitando a divulgação de pesquisa e medicamentos, além de atender hospitais, instituições de ensino terceiros e, claro, os profissionais.

A plataforma permite a gestão de clínicas, inteligência artificial para apoio no atendimento e até a prescrição de remédios e exames, que uma vez realizados na plataforma, possibilita que o paciente compre o medicamento em um marketplace próprio. Já são mais de 260 mil usuários na base de serviços digitais, entre médicos e estudantes, aproximadamente um terço da força profissional do Brasil.

A base da Afya está na vida acadêmica. O grupo possui 10,5% do mercado privado de graduação médica. Para os próximos cinco anos, a expectativa é crescer 50% e passar a ter 15% das vagas de medicina no País. Para atingir esse tamanho, a Afya soube jogar bem. A abertura de cursos de medicina é regulamentada e sua autorização está atrelada ao Programa Mais Médicos, que objetiva uma política pública de distribuição de médicos pelo Brasil. A ideia é evitar que todas as vagas sejam abertas em grandes centros e gere uma concentração ainda maior dos profissionais e do atendimento de saúde. Com isso, não basta o dinheiro e a vontade dos grupos em abrir cursos onde é mais rentável. E é nesse ponto que entra a estratégia de aquisições da Afya. A incorporação permite o crescimento acelerado, o que de modo orgânico não seria possível. “Por um lado, eu gostaria muito de ter novas escolas em grandes cidades. É mais fácil, tem demanda, mas como política pública eu entendo que você tem que criar os incentivos corretos para ter uma atenção primária e secundária de serviço de saúde para a população”, disse Gibbon.

Ao mesmo tempo que essa regulamentação pode gerar uma trava de crescimento, ela permite concorrência controlada. De acordo com Fernando Covac, sócio da consultoria Expertise Educação, esse é um dos fatores que tornam promissores o negócio da educação médica. Somam-se a ele os valores altos da mensalidade, que ultrapassa R$ 10 mil em média e torna o curso um dos mais rentáveis, além da alta taxa de permanência dos estudantes, com evasão menor que a média nacional em outros cursos, e a grande procura, o que garante turmas cheias. “O curso de medicina de uma instituição saudável não só é lucrativo como é o carro-chefe”, disse Covac. O que poderia amargar o setor é o momento de incerteza do Fies, programa de financiamento estudantil do governo. Mas, para isso, as empresas de educação se associam a bancos e demais instituições financeiras.

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