15/10/2003 - 7:00
Na parede, um painel com fotos do passado, de diversos lugares do mundo, com os filhos, netos, personalidades. A estante, ao lado da porta, está repleta de troféus. A grande mesa de vidro acomoda um bloco de notas, uma caneta e dois aparelhos telefônicos. Nada de computador, nenhum rastro de tecnologia. ?Até agora vivi muito bem sem isso. Minha relação com os computadores é de admiração, ainda que platônica?, diz o manda-chuva do lugar. Mas não se deixe enganar pelas aparências. O calabrês Aldo Leone, de 76 anos, não parou no tempo. Muito pelo contrário: é a apurada visão de futuro que está garantindo que sua empresa chegue aos 50 anos ?forte e sacudida?, para usar uma expressão bem italiana. Leone é dono da Agaxtur, uma das agências de viagens mais antigas do Brasil, que transporta 25 mil passageiros ao ano e, ao contrário de concorrentes como Stella Barros e Soletur, sobreviveu às tormentas do setor sem grandes percalços.
O segredo, diz o empresário, é inovar. Seu alvo agora, por exemplo, é o turismo corporativo, que ele prefere chamar de ?cruzeiro de incentivo?. Trata-se do seguinte: grandes empresas contratam os serviços da Agaxtur para realizar viagens com clientes ou funcionários em festas de confraternização e eventos de negócios. Visa, Bradesco, Parmalat e AOL já embarcaram na idéia. Nessa categoria, um único cruzeiro para o Caribe, por exemplo, rende R$ 720 mil aos cofres de Leone. ?O mercado de cruzeiros vai aumentar a nossa receita em 30% este ano?, afirma Aldo Leone Filho, vice-presidente da empresa, que, ao lado dos irmãos Andrea e Marcelo, tocam a Agaxtur com o pai. Tocar é maneira de dizer. ?Seu? Leone é o homem da última palavra. E também das grandes idéias.
Foi ele que realizou o primeiro cruzeiro marítimo do País, no Réveillon de 1963. O destino: Manaus ? uma aventura de 26 dias. Aventura mesmo. Para fretar o navio Rosa da Fonseca, Leone torrou tudo o que a Agaxtur (Agência Auxiliar de Turismo, o nome de batismo da empresa) havia lhe dado nos 10 anos anteriores. Teve que pagar ?milhões de cruzeiros? adiantados pelo aluguel da embarcação, que pertencia ao Loyds Brasileiro. Mas se garantiu escolhendo a dedo os passageiros. ?Consegui colocar boa parte da elite brasileira a bordo?, lembra o empresário. ?Foi um sucesso. E esse tipo de viagem virou moda.? Muitos carnavais e réveillons regados a champanhe em alto-mar vieram depois. E sobrenomes como Matarazzo e Klabin tornaram-se habitués dos quatros navios que Leone passou a operar na costa brasileira. Todos com equipes de animadores, um serviço inédito que mais tarde seria copiado por qualquer hotel à beira da praia.
Logo no ano seguinte, porém, Leone já estava dando outro tiro certeiro: inventou o pacote para Bariloche em 1964, quando muita gente ainda perguntava se a cidade ficava no Chile ou na Argentina. Em 1999, o destino já não era tão charmoso, e o empresário inovou mais uma vez oferecendo botas e roupas especiais para seus clientes esquiarem na neve. No mesmo ano, surpreendeu o mercado com a Agaxtur Club, uma divisão que operava exclusivamente viagens para jovens de 20 a 28 anos e oferecia ingressos para shows e casas noturnas no pacote. ?Dizem que sou um homem de vanguarda. Modéstia à parte, sou mesmo?, diz Leone.