08/05/2025 - 11:01
Inteligência interna da Alemanha se comprometeu a não se referir publicamente à sigla de ultradireita como “movimento extremista de direita confirmado” até tribunal se pronunciar sobre pedido de liminar do partido.A agência de inteligência interna da Alemanha se absterá temporariamente de classificar o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma organização extremista, informou nesta quinta-feira (08/05) um tribunal na cidade de Colônia, no oeste do país.
Na sexta-feira passada, o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) classificou a AfD nacional como uma “organização comprovadamente extremista de direita” que ameaça a democracia. A AfD então anunciou que tentaria reverter o novo rótulo na Justiça.
Na decisão divulgada agora, o BfV se comprometeu a não se referir mais publicamente à AfD nestes termos até que o tribunal se pronuncie sobre um pedido de liminar apresentado pela AfD para que categorização seja revertida.
O tribunal não especificou quando isso acontecerá. Pode levar várias semanas ou até meses para que o assunto finalmente seja concluído.
A pausa também deve valer para os instrumentos expandidos de vigilância que a BfV poderia contar no caso de manter a classificação de “organização comprovadamente extremista de direita” .
A classificação de extremista anunciada na semana passada permitia que a agência de espionagem sediada em Colônia intensificasse o monitoramento da AfD, com, por exemplo, recrutamento informantes e interceptação de comunicações partidárias.
Agora, pelo menos por enquanto, a AfD vai continuar a ser monitorada de maneira mais limitada como “uma organização suspeita de extremismo”, como já vinha acontecendo desde 2022.
O comunicado original sobre a nova classificação da sigla, divulgado na semana passada, também foi retirado da homepage da BfV.
A AfD comemorou a decisão após o anúncio. “Este é um primeiro passo importante para realmente nos exonerar e, assim, combater a acusação de extremismo de direita”, disseram os colíderes federais da AfD, Tino Chrupalla e Alice Weidel. “Estamos nos defendendo com todos os meios legais contra a elevação da classificação pelo Departamento Federal de Proteção à Constituição.”
Mas, segundo a imprensa alemã, a medida anunciada nesta quinta-feira não se trata de uma revogação da classificação pela agência, mas uma pausa.
Não é a primeira vez que o BfV se compromete a suspender uma classificação dada ao partido em função de uma ação judicial. Isso também ocorreu em janeiro de 2021, depois que a AfD entrou com recurso contra a sua então classificação, na época ainda como um “caso suspeito”. A ação judicial da sigla de ultradireita, entretanto, não teve sucesso em duas instâncias.
O relatório de especialistas de 1.100 páginas do BfV, que não será divulgado ao público, concluiu na semana passada que a AfD é uma organização racista e antimuçulmana.
A AfD afirma que sua designação é uma tentativa politicamente motivada de desacreditá-la e criminalizá-la.
Trajetória da AfD
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas em suas fileiras. Atualmente, quatro diretórios estaduais da AfD são classificados como “extremistas” por autoridades locais de inteligência. O mais recente é o do estado de Brandemburgo, que recebeu a classificação nesta semana.
Apesar disso, o partido tem registrado crescimento na última década. A legenda conseguiu formar sua primeira bancada federal em 2017. Em 2021, chegou a sofrer um leve declínio, mas retomou sua trajetória ascendente na última eleição federal, em fevereiro, dobrando seu apoio eleitoral e formando a segunda maior bancada de deputados no Parlamento (Bundestag). Atualmente, a AfD também é o partido político mais forte nas pesquisas de opinião, com cerca de 26% de apoio entre os alemães.
A AfD é especialmente forte no Leste alemão. Em uma tripla eleição estadual na região em 2024, a legenda chegou a terminar em primeiro lugar na Turíngia e em segundo na Saxônia e Brandemburgo – nesta última conquistou a maior fatia de eleitores entre 16 a 24 anos.
No entanto, o crescimento da AfD nos últimos anos ainda não se traduziu necessariamente em poder para a legenda, já que todos os partidos tradicionais têm evitado se aliar com a sigla para compor governos estaduais.
O recente cerco às atividades da AfD provocou críticas do outro lado do Atlântico, com membros do governo Trump, nos EUA, demonstrando repúdio contra a classificação do partido como “extremista” pelo (BfV). Mas nem todos os movimentos de ultradireita pelo mundo simpatizam com a AfD e sua estratégia de radicalização pública crescente. Em 2024, o movimento da francesa Marine Le Pen chegou a romper com a AfD no Parlamento Europeu após um eurodeputado alemão da legenda relativizar o histórico de uma antiga organização nazista.
md (Reuters, DPA, EPD)