26/10/2014 - 17:51
A eleição mais acirrada dos últimos tempos, que ofereceu aos brasileiros a oportunidade de optar entre duas formas diferentes de governar o País. Essa é a avaliação da eleição pelos olhos da imprensa internacional, em especial as publicações europeias.
O jornal francês Le Monde traz um perfil do candidato tucano e sobre os seus passos durante a campanha presidencial, que foi marcada por reviravoltas. A primeira delas foi a morte de Eduardo Campos (PSB), seguida pela rápida ascensão de Marina Silva, que até então era candidata a vice-presidente na chapa do ex-governador de Pernambuco. As pesquisas eleitorais apontavam que Marina iria disputar o segundo turno com Dilma. “Apoiado pela poderosa máquina do PSDB, Aécio recuperou o fôlego em meados de setembro, cercado por uma eficiente equipe de comunicação, e se apresentou como o candidato da mudança”, diz o Le Monde.
Em entrevista à DINHEIRO, de Paris, o acadêmico e ex-diretor da organização Repórteres Sem Fronteiras, Benoit Hervieu, avalia que a imprensa européia não deu a atenção devida ao candidato Aécio Neves no primeiro turno. “Só depois que ele surpreendeu nas urnas, os veículos locais deram maior atenção ao histórico e à biografia do candidato”. Segundo Hervieu, a cobertura foi bastante desfavorável para o PT, com os órgãos de imprensa se aprofundando nas críticas ao governo. “Os veículos principais, acreditando e querendo uma vitória dos opositores no Brasil, destacaram as dificuldades do partido em conduzir a economia brasileira”, diz Hervieu.
Um bom exemplo é a linha do mais importante jornal francês, o Le Monde, que, ao traçar o perfil de Dima, afirma que a eleição é marcada por vários escândalos de corrupção. “A presidente fez campanha sobre os grandes avanços sociais dos últimos 12 anos, em que seu partido esteve no poder. No entanto, encontrou vários obstáculos, como a recessão da economia, reivindicações da classe média e escândalos de corrupção que mancharam a imagem do PT”, segundo o jornal.
Outras publicações foram pela mesma linha. Para a revista inglesa The Economist, não sobrarão unhas para serem roídas pelos brasileiros até a divulgação dos resultados das eleições, dado o nível da disputa pela Presidência da República brasileira. Segundo a publicação, que há uma semana declarou apoio ao candidato Aécio Neves, do PSDB, “esta é uma das mais apertadas disputas eleitorais que o Brasil já viu”.
De acordo com a britânica BBC, os brasileiros vão às urnas em uma disputa acirrada e com um nível de agressividade inédito. Em entrevista à emissora inglesa, Anthony Pereira, diretor do Instituto Brasil no King’s College, diz que a imprensa financeira britânica enxerga Aécio como o candidato do livre mercado e alguém que se opõe ao neodesenvolvimentismo do PT.
A agência britânica Reuters destacou que metade dos eleitores acredita que o candidato tucano é sinônimo de mudança “necessária para a maior economia da América Latina”. Já outra metade ainda confia na década de crescimento marcada pelo governo Lula e que deveria ter tido continuidade no governo de Dilma Rousseff.
Já o espanhol El Pais afirma que os eleitores brasileiros têm de eleger entre dois modelos diferentes de governo. “As personalidades antagônicas de Dilma e Aécio encarnam duas visões de uma sociedade polarizada durante a campanha”, diz o jornal.
A imprensa americana dedicou menos tempo às eleições. O americano New York Times chamou a atenção para o nível de polarização dos dois candidatos. “A corrida presidencial está entre a titular de esquerda, que divulga os grandes ganhos na redução da pobreza, e o candidato centrista, que culpa a situação de escândalos de corrupção e uma economia lenta.”
Carlos Alberto Montaner, colunista do Miami Herald, enfatiza que a vitória de Aécio Neves será um sinal para os países do chamado socialismo do século 21 de que a tendência ideológica estridente e neopopulista, que arruinou a Venezuela, está esmorecendo. “A vitória de Aécio Neves deve influenciar nas eleições do Uruguai e impulsionar a candidatura de Luis Lacalle Pou, um jovem e energético político de centro-direta que se opõe a Tabaré Vázquez”, diz Montaner.