Manifestantes pedem salvaguardar mais duras para impedir “invasão” de produtos sul-americanos no mercado europeu. Protesto teve confrontos com a polícia.Milhares de agricultores de vários países foram às ruas de Bruxelas nesta quinta-feira (18/12) em protesto contra a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia prevista para ocorrer no próximo sábado, em Foz do Iguaçu.

Os manifestantes começaram a chegar à capital belga na noite de quarta-feira e, desde o início desta quinta-feira, bloquearam algumas das entradas rodoviárias da cidade com o uso de cerca de mil tratores, provocando congestionamentos em boa parte de Bruxelas.

Os agricultores incendiaram pneus e lançaram batatas e ovos contra a polícia de choque. Os agentes responderam com gás lacrimogêneo e canhões de água.

Diante do Parlamento Europeu, houve cenas de violência, fogos de artifício e vandalismo. Um caixão de madeira com a palavra “agricultura” foi colocado em uma estátua.

Os agricultores veem risco de o acordo inundar o mercado europeu com produtos latino-americanos que não são submetidos às mesmas regras rigorosas da União Europeia, chegando mais barato às prateleiras. Além do pacto, agricultores também protestam contra planos da UE de reformar subsídios agrícolas, temendo cortes.

Conselho Europeu recebe agricultores

Representantes dos países do bloco estão reunidos na capital da Bélgica para participar do Conselho Europeu, presidido pelo ex-primeiro-ministro português António Costa. O foco principal do encontro é discutir o apoio financeiro à Ucrânia, mas as disputas acerca do acordo comercial levaram o tema para a cúpula dos 27 estados-membros da UE.

O início da reunião começou com mais de uma hora de atraso em virtude dos protestos. Costa e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se reuniram com representantes dos agricultores para ouvir suas demandas.

A expectativa de assinatura do acordo que criaria a maior Zona de Livre Comércio do mundo é ameaçada pela resistência de França e Itália em aprovarem o texto. Na quarta-feira, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia concordaram em incluir cláusulas de salvaguarda para proteger os agricultores europeus do potencial impacto negativo de um aumento das importações latino-americanas.

Essas cláusulas permitem que a Comissão Europeia investigue e atue caso as importações de produtos agrícolas sensíveis aumentem de forma significativa ou entrem com preços claramente inferiores aos europeus.

O dispositivo adicionado também permite investigação de produtos que não respeitem as regras que incidem sobre os produtores da UE, como bem-estar animal, proteção trabalhista e uso de pesticidas. Se for detectado prejuízo, as vantagens comerciais podem ser suspensas.

França continua a rejeitar acordo

Mesmo com as alterações, o presidente da França, Emmanuel Macron, voltou a pedir nesta quinta-feira que o tratado não seja assinado.

“A postura da França desde o princípio é clara em relação ao Mercosul: acreditamos que o acordo é insuficiente e não pode ser assinado”, declarou Macron ao chegar para a cúpula de chefes de Estado.

Uma maioria qualificada dos países precisa ser favorável à criação da zona comercial com o Mercosul para que a Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, possa viajar no sábado ao Brasil para assinar definitivamente o acordo, após 25 anos de negociações.

Após décadas de negociações entre os dois blocos, o acordo da UE com o Mercosul facilitaria a entrada na Europa de carne, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos, assim como as exportações europeias de automóveis, máquinas, vinhos e licores.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira que, se a União Europeia decidir adiar novamente o pacto comercial e a assinatura não ocorrer no próximo sábado, “não haverá mais acordo”, pelo menos enquanto ele for presidente. No dia seguinte, disse ter conversado com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e que pode levar ao Mercosul a discussão sobre um possível adiamento da assinatura.

gq (EFE, Lusa, AFP)