17/11/2024 - 23:50
Os agricultores franceses iniciaram uma nova série de ações nesta segunda-feira (18) para protestar contra a aparente iminência de um acordo comercial entre a União Europeia e quatro países do Mercosul, que consideram uma ameaça ao seu futuro.
A França lidera a resistência contra a assinatura do acordo negociado há muito tempo entre UE e Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que criaria a maior zona de livre comércio do mundo.
No domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu a oposição do seu país ao acordo durante uma visita ao seu homólogo argentino, Javier Milei, em Buenos Aires. “Não será às custas de nossos agricultores”, assegurou, antes de se dirigir à cúpula do G20 no Rio.
A Itália juntou-se à rejeição nesta segunda-feira, quando o ministro da Agricultura, Francesco Lollobrigida, denunciou um acordo que “em sua forma atual, não é aceitável”.
“As crises geopolíticas já enfraqueceram drasticamente nosso setor primário, que dificilmente poderia resistir ao impacto das importações com custos e preços de produção mais baixos”, disse o político de extrema direita.
Assim como fizeram em janeiro, durante protestos de magnitude sem precedentes, os trabalhadores agrícolas usaram os seus tratores para bloquear estradas em toda a França nesta segunda-feira.
Também plantaram grandes cruzes de madeira, como símbolo da sua morte, e instaram Macron e o governo a fazerem mais.
Os protestos foram em grande parte simbólicos, mas os manifestantes dizem que estão prontos para aumentar a pressão.
“Chega de promessas, comece pelos fatos”, dizia uma placa exposta em uma rodovia no sudeste do país. “Macron, a nossa agricultura está morrendo e você olha para o outro lado”, dizia outra.
No total, “há 85 pontos de manifestação”, declarou Pierrick Horel, presidente da Jovens Agricultores (JA).
Menos de um ano após o seu grande movimento de indignação, os agricultores e pecuaristas franceses continuam denunciando rendas insuficientes para sobreviver.
– “Revolução agrícola” –
Apesar da oposição da classe política francesa e dos setores agrícolas, a UE parece determinada a assinar o acordo até o final do ano, o que permitiria aos países sul-americanos envolvidos aumentar suas cotas de entrada no bloco de carne bovina, de frango e suína.
Vários governos europeus, como os da Espanha e Alemanha, são favoráveis ao acordo, que abriria as portas para maiores exportações de carros, máquinas e produtos farmacêuticos da UE.
Os agricultores franceses denunciam uma concorrência desleal, porque a produção dos alimentos no bloco sul-americano não está submetida às mesmas exigências ambientais e sociais, nem aos mesmos padrões sanitários em caso de controles insuficientes.
Os principais sindicatos agrícolas decidiram retomar a mobilização no dia em que a reunião de cúpula do G20 começa no Brasil.
Já na noite de sexta-feira, grupos de agricultores marcharam até a base aérea de Villacoublay, perto de Paris, e bloquearam duas das três estradas em uma rodovia nacional.
Outro sindicato agrícola, Coordenação Rural, disse que estava aguardando seu congresso na terça e quarta-feira para convocar a mobilização.
A entidade, que afirma ter conquistado milhares de novos membros desde o ano passado, promete “uma revolução agrícola” com “um bloqueio do frete de alimentos” a partir de quarta-feira no sudoeste do país se não houver “nenhum progresso” na questão do Mercosul.