24/05/2024 - 16:50
RESUMO
• Agronegócio deve ser a atividade econômica mais afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul
• Aalém dos danos diretos, prejuízos do agro devem ser amplificados em razão dos problemas de logística
• Armazenamento e transporte afetam tanto o escoamento da safra, como impedem a chegada de insumos
Arroz, trigo, milho, aveia… Mesmo que nem todos saibam, grande parte dos alimentos sobre a mesa dos brasileiros é produzida no Rio Grande do Sul, e que hoje tem suas lavouras destruídas pelas inundações do estado ou estão debaixo d’água. Até mesmo a cevada que abastece 25% da demanda das cervejarias do País tem nacionalidade gaúcha. No caso do arroz, o percentual chega a 71%, segundo cálculo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isso ajuda a explicar a fatia de 12,6% do Rio Grande do Sul no PIB do agronegócio brasileiro.
• Todos esses números sinalizam que o agronegócio deve ser a atividade econômica mais afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
• Um relatório produzido pelo Bradesco projeta que a tragédia provocará uma retração de 3,5% no agronegócio brasileiro neste ano.
• Com isso, os preços dos alimentos em todo País devem ser pressionados em decorrência das perdas da safra gaúcha.
• Mesmo com autorização do governo para importação emergencial de arroz, para evitar desabastecimento nacional, é muito provável que os alimentos empurrem a inflação para cima.
• Afinal, além do arroz, o Rio Grande do Sul também é um dos maiores produtores de soja, trigo e carnes. A sorte — se é que existe alguma neste cenário — é que o estado está no fim da colheita de verão e cerca de 70% da soja e 80% do arroz já foram colhidos.
A isenção das tarifas de importação foi aprovada pelo Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), durante reunião extraordinária na segunda-feira (20). “Ao zerar as tarifas, buscamos evitar problemas de desabastecimento ou de aumento do preço do produto no Brasil, por causa da redução de oferta”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin.
A redução a zero das tarifas vale até 31 de dezembro deste ano. A Secretaria de Comércio Exterior do MDIC (Secex) pode prolongar o período de vigência, se considerar necessário. O governo pretende importar até 1 tonelada de arroz para abastecer o mercado e assegurar para o consumidor final o preço de R$ 20 para o pacote de 5 quilos de arroz, na importação do produto.
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EFEITOS
Pelas contas do Bradesco, na hipótese que metade do que não foi colhido tenha sido perdido nas lavouras por causa do dilúvio, 800 mil toneladas de arroz e 3,2 milhões de toneladas de soja serão perdidas neste ano, o que deve representar redução de 7,5% da produção de arroz e 2,2% na de soja. O relatório destaca que projeções são conservadoras, já que ainda não se sabe a dimensão das perdas nas lavouras gaúchas, além de pastos e rebanhos. O estado foi responsável por 12% dos abates de suínos e 9,5% dos abates de frangos em 2023.
Segundo o Bradesco, o impacto do desastre sobre o PIB nacional deve ficar de 0,2 a 0,3 ponto percentual. A queda também pode colocar em xeque o crescimento econômico de 2% do Brasil previsto em 2024. Analistas estimam que o PIB do Brasil terá crescimento de 2,05% em 2024, segundo o Boletim Focus, do Banco Central (BC). Portanto, uma redução de 0,3 ponto percentual levaria a expansão do PIB para algo perto de 1,75%, o que é uma desaceleração em relação a 2023, quando o Brasil avançou 2,9%.
3,5%
é a estimativa do Bradesco de redução do PIB do agro com a devastação de plantações no estado
Tudo justifica as previsões de que os estragos causados pelas chuvas no Rio Grande do Sul vão contaminar a balança comercial deste ano. O estado foi o 6º no ranking dos que mais contribuíram para o superávit da balança comercial em 2023. Os gaúchos responderam por US$ 8,6 bilhões do saldo de US$ 98,9 bilhões registrado no ano passado, o que equivale a 8,6% do total. Os dados são do MDIC. O estado também é o 6º que mais exporta e também o 6º que mais importa. Embarcou para o exterior US$ 22,3 bilhões em 2023 (6,6% do total do País). Importou US$ 13,8 bilhões (5,7%).
Os prejuízos do agronegócio devem ser amplificados em razão dos problemas de logística, que afetam tanto o escoamento da safra, assim como impede a chegada de insumos. Os obstáculos devem afetar principalmente os segmentos de laticínios e carnes, que são mais perecíveis. O cenário deve se refletir diretamente nos preços dos alimentos. O Bradesco enfatiza que em 2008, quando um ciclone subtropical atingiu o Rio Grande do Sul, os preços do arroz subiram cerca de 40% no atacado e 20% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em um mês.