O agro não parou na pandemia. Ou, no mínimo, a crise sanitária teve um impacto muito menor no campo do que teve em outros setores da economia. Essa é uma das constatações da 8º pesquisa Hábitos do Produtor Rural, feita pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), um levantamento bastante amplo que oferece uma série de dados importantes sobre o produtor brasileiro.

Para 64% dos entrevistados, a pandemia teve um impacto baixo nas atividades de produção. Apenas 25% afirmaram ter sentido os efeitos da crise de forma mais severa. Essa resiliência do setor vinha sendo discutida desde meados do ano passado. Afinal, não houve desabastecimento dos mercados em nenhum momento. Esses novos dados apenas reforçam essa percepção.

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A principal mudança nesse período diz respeito ao entendimento sobre a importância do trabalho do agricultor. Antes da pandemia, apenas 31% dos produtores acreditavam ter uma imagem boa ou excelente perante a população urbana. Esse número subiu para 46% desde então. É um sinal de que a distância entre o campo e a cidade está sendo encurtada.

A pesquisa não fica restrita à pandemia. É um estudo exaustivo sobre o pensamento e o comportamento do homem do campo. Foram 3.048 agricultores de 16 Estados, 14 culturas agrícolas e quatro atividades pecuárias entrevistados de forma presencial entre outubro de 2020 e janeiro de 2021. Trata-se da maior edição da pesquisa, realizada desde 1985.

Outro recorte importante diz respeito à digitalização: 94% dos entrevistados têm smartphone (na pesquisa anterior, de 2017, eram apenas 61%), 74% usam a internet como fonte de informação (contra 42% em 2017) e 90% costumam acessar alguma rede social. Enquanto isso, meios mais tradicionais, como a TV aberta, os jornais e as revistas, perdem espaço na preferência.

Fica claro o interesse e a participação crescente do produtor no ambiente digital. Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido quando o assunto é a adoção de tecnologias na propriedade. Apenas 9% dos entrevistados usam algum tipo de plataforma ou software de gestão. Dos que dizem não usar, 83% ainda confiam no caderno de papel.

A situação é parecida na agricultura digital: apenas 29% dos entrevistados usam algum tipo de solução de precisão na agricultura, e 15%, na pecuária.

Para as startups do agro esses dados devem ser lidos como uma enorme oportunidade de negócios. O produtor usa a internet e tem acesso às ferramentas. Falta mostrar a ele como essas novidades vão ajudá-lo a produzir mais.