A expectativa de dez entre dez representantes das cadeias produtivas do agronegócio para 2022 era de um período de recuperação. Ao menos é o que diziam do final de 2021 até meados do mês passado. Foram praticamente dois anos de pandemia da Covid-19 – que ainda continua –, com o último deles agravado por uma espécie de corrida de obstáculos: alta do dólar inflacionando os custos de produção, escassez de insumos, aumento do preço dos combustíveis, apagão logístico – até contêiner faltou – e uma série de problemas causados por efeitos climáticos. A mínima chance de um respiro após essa maratona foi literalmente explodida com a invasão da Ucrânia pelos exércitos russos no último dia 24.

O mundo ficou aterrorizado com o início dessa guerra, e temeroso pelas dimensões que o confronto ainda pode tomar. Conforme foram surgindo análises setoriais sobre os impactos desse trágico cenário, lá estava o agronegócio entre os segmentos direta e indiretamente prejudicados, inclusive aqui no Brasil. Se boa parte da preocupação dos agricultores brasileiros em relação à escassez de insumos no ano passado envolvia fertilizantes, agora mais ainda: Rússia e sua aliada Belarus, dois dos principais fornecedores mundiais de matérias-primas para a indústria de adubos, estão sob sanções econômicas e comerciais que interrompem esse abastecimento.

Agravamento da guerra na Ucrânia pode arrasar economia da Rússia por décadas

Para a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Tereza Cristina é importante ter cautela e equilíbrio neste momento. Segundo ela, o País tem estoques de passagem para suprir sua demanda de fertilizantes por enquanto, e o governo federal já conversa com o setor privado para buscar outros países que possam fornecer o insumo. A própria ministra já havia visitado a Rússia em novembro do ano passado para tratar também desse assunto e, mais recentemente, esteve no Irã, considerado uma possível opção para amenizar a situação.

Essa é uma parte do problema, pois ainda que o Brasil consiga importar fertilizantes de outros países, esses produtos precisam chegar até aqui. Se o mundo vinha enfrentando um estrangulamento logístico, a situação fica muito pior em meio a uma guerra. O Mar Negro e o Mar de Azov, que banham a costa da Ucrânia, se tornaram zonas intransitáveis para navios comerciais, o que afeta todo o transporte marítimo. A redução do tráfego dessas embarcações gera uma onda de outras complicações, como o aumento do tempo de viagens e de espera nos portos de maneira geral, além de encarecer valores de seguro e frete. Essa conta chega, de um jeito ou de outro, às lavouras espalhadas pelo País e, invariavelmente, será repartida com todos os elos da cadeia produtiva até chegar no preço dos alimentos para os consumidores.