A safra brasileira de grãos para o ciclo 2022-23 deverá chegar a 310 milhões de toneladas. Isso representa um recorde, com aumento de 14,4% ante o volume atingido na última temporada. Nem mesmo o clima adverso, que foi registrado no período de desenvolvimento inicial, principalmente no Rio Grande do Sul, deve reduzir a projeção, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O 5º Levantamento da Safra de Grãos 2022/23, divulgado na quarta-feira (8), indica aumento de 38,2 milhões de toneladas em relação à temporada anterior e um leve ajuste de 0,1% sobre a estimativa anterior, anunciada em dezembro.

“O início da colheita de milho e soja no estado gaúcho confirmam as previsões de queda de produtividade devido às baixas precipitações ocorridas durante o ciclo da cultura no estado. Por outro lado, o desempenho das lavouras no Centro-Oeste foi beneficiado pelo clima favorável”, afirmou em nota o presidente da Companhia, Guilherme Ribeiro.

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Principal grão cultivado, a soja deve atingir uma produção de aproximadamente 152,9 milhões de toneladas. O plantio foi praticamente finalizado e a colheita da safra 2022/23 teve seu início em várias regiões do País. Porém, o ritmo ainda é lento com apenas 8,9% da área colhida em todo o Brasil, atrás dos 16,8% registrados na safra passada, conforme avaliação do progresso de safra da Conab. Mato Grosso lidera o avanço, com 25,6% de sua área colhida. No entanto, as chuvas volumosas atrasaram a colheita em relação à última safra, que na mesma época contava índice de 42,1%. Além do intenso volume de chuvas, há registro de alongamento do ciclo da cultura em virtude de ondas de frio.

Ainda de acordo com o levantamento da Conab, as exportações de milho na safra 2021/22 foram recordes e finalizaram em aproximadamente 47 milhões de toneladas. Com relação aos dados da temporada 2022/23, os estoques iniciais foram ajustados para um volume em torno de 7,9 milhões. Para a soja, as estimativas permanecem relativamente estáveis em relação ao último levantamento. A atualização no quadro de suprimentos da oleaginosa ocorre nos estoques finais esperados para o atual ciclo, com uma pequena elevação de 130 mil toneladas motivada pela revisão na estimativa de colheita do grão. A Conab também aumentou os estoques finais de trigo para 1,58 milhão de toneladas, após o reajuste no volume colhido na última safra.

Cautela – Para produtores e analistas, o cenário macroeconômico ainda exige prudência do agronegócio. Os altos juros e o alongamento da guerra na Ucrânia exigem prudência, segundo o analista do Rabobank, Renan Alves. “No ano passado, no primeiro semestre tivemos um resultado impressionante que nos fez revisar o resultado do ano para o PIB de 2,7%. Mas a inflação e a guerra encareceram demais os custos e agora já trabalhamos com um estimativa de alta de apenas 0,6% para 2023”, afirmou Alves.

Entre os maiores desafios listado pelo banco está a logística, especialmente diante da safra recorde não só de grãos como de outras culturas, impulsionando gastos com frete. “Safra recorde traz desafios importantes também na capacidade de armazenagem. Isso sem falar no crescimento da necessidade de financiamento para o setor”, explica o analista Andy Duffy. Neste sentido, a evolução de soluções financeiras como os Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros), no último ano, ajudaram a aproximar um pouco mais o capital da Faria Lima para o campo.