23/05/2020 - 8:00
Em pouco mais de três meses da crise global provocada pelo novo coronavírus, o agronegócio é o setor que apresenta os melhores resultados no Brasil, sustentando boa parte das vendas de mercadorias para outros países.
De fevereiro a abril, as exportações de produtos em geral somaram US$ 52,822 bilhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia. Somente as vendas de soja e derivados e de carnes – dois dos principais itens da pauta brasileira – somaram US$ 16,438 bilhões no período, cerca de um terço do total.
As vendas de soja e derivados e de carnes no intervalo de fevereiro – quando os efeitos da covid-19 sobre o comércio global se intensificaram – a abril mostram um aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Em comparação, as exportações em geral subiram apenas 0,7% no período.
Para o economista Simão Davi Silber, doutor em Economia Internacional e professor da Universidade de São Paulo (USP), o desempenho positivo do agronegócio, mesmo na crise global, tem uma explicação simples. “A primeira necessidade é ‘comer’. E, para proteicos, o Brasil é fundamental”, afirma.
Os países da Ásia são os principais clientes do Brasil. Com uma população superior a 1,4 bilhão de pessoas, China, Hong Kong e Macau compraram de fevereiro a abril o equivalente a US$ 17,734 bilhões em mercadorias brasileiras – a maior parte do setor agrícola. De cada US$ 100 em vendas feitas pelo País, um terço (US$ 33,57) foi para a região.
Esse cenário faz o setor aparecer como uma espécie de “ilha de bonança” no Brasil, em meio à derrocada econômica na pandemia. Dados do relatório Focus, do Banco Central, mostram que os economistas do mercado projetam atualmente retração de 5,12% do PIB em 2020. Enquanto o PIB de serviços – fortemente afetado pelo isolamento social – deve despencar 4%, o PIB da agropecuária pode subir 2,48%, conforme as projeções dos economistas.
“É possível que a queda do PIB no Brasil seja menor por conta do PIB agrícola”, comenta a economista Vitoria Saddi, professora do Insper em São Paulo. Com a experiência de ter atuado em instituições internacionais como JP Morgan e Citibank, Saddi acredita que o comércio global após a pandemia poderá trazer oportunidades ao Brasil.
“Em momentos de crise profunda, como foi a da década de 1870 nos EUA (o Pânico de 1873) ou a Grande Depressão (iniciada em 1929), o mundo tende a se fechar”, alerta a economista. “É quase como um subproduto da crise o fechamento do comércio no mundo.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.