O ritmo de consumo da Perrier é a prova de que produtos refinados, ícones de quem tem muito dinheiro, podem vender como água. Até o fim de 2003, a mais celebrada marca de água do planeta atingirá o incrível patamar de 1 bilhão de garrafas verdes distribuídas ? é uma cifra impulsionada pela canícula européia, com temperaturas de 40°C à sombra. A Perrier é, a rigor, mero H20. Mas, entre os yuppies, é comparada às melhores safras de vinhos. Há excelentes razões para isso.

Ela é formada num lençol subterrâneo onde a chuva acumulada ao longo de milhares de anos fica protegida por um estrato de argila impermeável. Ao cruzar as camadas vulcânicas a centenas de metros de profundidade, a água se une ao gás natural que a transforma numa bebida cujo borbulhar é único. A fonte, em Vergèze, no sul da França, carrega uma história milenar. Em 218 a.C, Aníbal, o poderoso general de Cartago, marchava da Espanha para conquistar Roma. Na ocasião, os soldados cartagineses pararam na fonte da Perrier para se refrescar. Anos depois, o local serviu para suprir as necessidades do império romano.

Passaram-se mais de dois mil anos e a água de bolinhas continua cobiçada. É a única consumida pela família real britânica no
Palácio de Buckingham. É um ícone tão forte que, mesmo depois da descoberta de partículas de benzeno num lote americano, em 1990, não houve perdas. E, de lá para cá, inventaram-se novos modos de consumi-la. Para apreciá-la em sua plenitude é indicado degustá-la a 12°C. Não se deve pôr uma pedra de gelo como acompanhamento ? mas, se for impossível evitar a tentação, a solução é fazer gelo com a própria Perrier. É a certeza de que o borbulhar no céu da boca não perderá seu efeito.