23/09/2010 - 2:21
O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, sugeriu nesta quinta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, que os atentados de 11 de setembro de 2001 foram um “complô” dos Estados Unidos, provocando a saída imediata, do plenário da ONU, das delegações americana, britânica e da União Europeia.
Ao mencionar uma das “teorias” sobre os atentados do 11 de Setembro, Ahmadinejad disse: “certos setores no governo americano orquestraram o atentado para reverter a queda na economia americana e no seu controle sobre o Oriente Médio, e para salvar o regime sionista”.
“A maior parte do povo americano e outros países e políticos concordam com este ponto de vista”, declarou.
Citando uma segunda teoria, o presidente iraniano acrescentou: o atentado “foi realizado por um grupo terrorista, mas com o apoio do governo americano, que tirou vantagem da situação”.
A terceira teoria aventada por ele foi a de que “um grupo terrorista muito poderoso e complexo, capaz de enganar todas as camadas dos sistemas de inteligência e de segurança” dos Estados Unidos, realizou o atentado.
Cerca de três mil pessoas morreram nos ataques orquestrados pela rede terrorista Al-Qaeda, quando terroristas suicidas sequestraram aviões comerciais cheios de passageiros e os lançaram contra as torres-gêmeas do World Trade Center, em Nova York, o Pentágono, em Washington, e um campo na Pensilvânia.
As declarações de Ahmadinejad, que em seu discurso também atacou Israel e acusou o Ocidente de monopolizar o poderio nuclear enquanto seu país sofre sanções, provocaram a imediata saída das delegações americana, britânica e da União Europeia do plenário.
Um diplomata europeu explicou que as delegações europeias abandonaram a sala em solidariedade aos americanos.
Os Estados Unidos qualificaram as palavras de Ahmadinejad de “detestáveis e delirantes”.
“Antes de representar as aspirações e a boa vontade do povo iraniano, Ahmadinejad decidiu, novamente, tagarelar sobre teorias de complô vis e usar palavras antissemitas que são detestáveis e delirantes”, destacou Mark Kornblau, porta-voz da delegação americana na ONU.
O Canadá, que boicotou o discurso antes mesmo de seu início, desqualificou as declarações de Ahmadinejad. Ao tomar conhecimento da fala do presidente iraniano, o chanceler canadense, Lawrence Cannon, qualificou suas palavras de “inaceitáveis” e de “uma violação ostensiva dos padrões internacionais e do próprio espírito das Nações Unidas”.
O líder iraniano costuma provocar as delegações dos Estados Unidos, de Israel e outras delegações em seus discursos na Assembleia-geral da ONU.
No ano passado, seus comentários, considerados pela missão americana de “odiosos, ofensivos e de retórica antissemita” também levaram a delegação a deixar o plenário.
No discurso deste ano, Ahmadinejad voltou a dirigir comentários incendiários contra Israel.
“Os sionistas cometeram os mais terríveis crimes contra povos indefesos nas guerras contra o Líbano e Gaza”, disse o presidente persa à assembleia.
“O regime sionista atacou uma flotilha humanitária em um desafio ostensivo a todas as normas internacionais, e matou civis”, acrescentou, em alusão à invasão, em maio, por um comando israelense, de um navio turco que levava ajuda humanitária a Gaza.
Com seu país no centro de uma polêmica sobre seu programa nuclear, Ahmadinejad condenou “alguns” membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – Grã-Bretanha, China, França, Rússia e Estados Unidos – de monopolizar o poderio nuclear.
Segundo o presidente, as críticas feitas ao Irã ocorreram “ao mesmo tempo em que eles continuaram a manter, expandir e aprimorar seus próprios arsenais nucleares”.
Por este motivo, afirmou que 2011 deveria ser declarado o ano do desarmamento nuclear. “Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”, propôs.
Os países ocidentais acusam o Irã de tentar desenvolver a bomba atômica, sob o disfarce de um programa nuclear civil.
O programa é alvo de preocupações internacionais desde a descoberta, em 2003, de que o país ocultou suas atividades nucleares por 18 anos, descumprindo suas obrigações em relação ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
O Conselho de Segurança da ONU impôs diversas rodadas de sanções contra o Irã desde 2006, incluindo o banimento de todos os itens que poderiam contribuir para o enriquecimento de urânio no país, um passo necessário tanto para a energia nuclear pacífica ou para uso militar, além de congelamento de venda de armas e ativos.
As visitas anuais do líder iraniano a Nova York costumam provocar controvérsia, e por esta razão ele costuma estar cercado de um forte dispositivo de segurança.
Esta quinta-feira, cerca de 800 pessoas, muitas delas de origem iraniana, protestaram em frente à sede da ONU contra a visita do presidente.
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