Num banho de água fria sobre o otimismo do governo com o retorno do Brasil ao grupo de economias com grau de investimento, a responsável da S&P Global pela análise do risco de crédito soberano na América Latina disse nesta quinta-feira, 29, que é prematuro dizer neste momento que o País receberá o selo.

Apesar de avanços nos últimos sete anos, como a reforma da Previdência e a fixação de um limite aos gastos públicos, Lisa Schineller, diretora da agência de classificação de risco na região, frisou que a decisão de revisar a perspectiva do rating brasileiro, de estável para positiva, significa que existe apenas uma tendência que pode levar o País a um upgrade – isto é, melhora da nota.

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Ela lembrou que a nota BB- do País está três degraus abaixo do selo de grau de investimento, um atestado conferido a economias com boa capacidade de pagar suas dívidas. Schineller observou que o déficit das contas primárias permanece elevado nas projeções da S&P para o Brasil, assim como a dívida tem tendência de alta.

Ao explicar por que a perspectiva para a nota de crédito do Brasil agora é positiva, a diretora da agência observou que a S&P tinha superestimado o avanço da dívida brasileira como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).

Além disso, salientou que o Brasil evoluiu a um ambiente de menor incerteza sobre as políticas econômicas, após a apresentação do novo marco fiscal e com a autonomia do Banco Central (BC) sendo confirmada.

A elevação do rating, contudo, depende de compromissos de que o governo seguirá avançando em mudanças de legislação estruturais. “É prematuro discutir grau de investimento agora”, afirmou a diretora da S&P ao participar de um fórum realizado pela consultoria Eurasia em São Paulo.

Ela lembrou, ao dar uma referência, que a Indonésia conseguiu obter o grau de investimento, saindo de uma posição de default, com uma combinação de três fatores: dívida em queda, composição favorável da dívida pública e crescimento.

“São dois itens que o Brasil não tem ainda”, pontuou Schineller, referindo-se às projeções desfavoráveis para a dívida do governo brasileiro.