Especialistas europeus e do Fundo Monetário Internacional começaram nesta quinta-feira em Dublin a discutir a concessão de ajuda de “dezenas de bilhões” de euros, no âmbito de um vasto plano de resgate dos bancos irlandeses, cujo endividamento astronômico ameaça a zonda do euro.

“As expectativas da União Europeia e do FMI e as minhas são as de que um empréstimo será colocado à disposição”, declarou na manhã desta quinta-feira o Governador do Banco Central da Irlanda, Patrick Honohan. “Falamos de um empréstimo muito importante, de dezenas de bilhões” de euros, precisou na rádio pública RTE.

Logo após essas declarações, especialistas do FMI, da UE e do Banco Central Europeu (BCE) abriram as discussões com os dirigentes irlandeses. O conteúdo foi guardado sob o maior segredo e nada foi anunciado ao longo de sua duração. O diálogo pode demorar vários dias, segundo a imprensa.

Em Washington, a diretora das relações exteriores do FMI, Caroline Atkinson, anunciou que as discussões não tratavam ainda “de um programa de ajuda” propriamente dito, e continuavam num estágio “técnico”. “Os europeus têm grande capacidade de agir” para resolver os problemas na Irlanda, afirmou.

Na Irlanda, em frente a sede o Ministério das Finanças, vários membros do Partido Socialista irlandês manifestaram-se contra “a ditadura do FMI e da UE”. “Eles vão nos obrigar a cortar a previdência social”, afirmou Joe Higgins, deputado europeu e presidente da pequena formação.

Na manhã desta quinta-feira, ao longo de uma nova sessão muito agitada no Parlamento, o líder da oposição Enda Kenny exigiu a demissão do governo, classificando de “humilhação” o pedido de ajuda externa.

Os irlandeses são muito orgulhosos de sua independência, adquirida com sofrimento após séculos de luta contra o jugo colonial britânico, e são muito eurocéticos. Eles temem em particular que Bruxelas seja obrigada a desistir das vantagesn fiscais concedidas às empresas (12,5%), o que alimenta o “milagre” econômico celta.

A UE e o FMI, preocupados em evitar o adiamento que agravou a crise grega, querem desta vez dar o primeiro passo e resolver o problema irlandês antes que ele se propague ao resto da zona do euro.

O antigo “tigre celta” agoniza com um déficit recorde (32% de seu Produto Interno Bruto este ano) em razão de cerca de 50 bilhões de euros que o governo teve que injetar nos bancos da ilha.

Um princípio de decisão sobre os empréstimos europeus e do FMI foi tomado, mas Dublin segue sem formalizar o pedido de ajuda indispensável.

Nesta quinta, o primeiro-ministro Brian Cowen rejeitou mais uma vez o compromisso.”Minha responsabilidade é de fazer com que nós obtenhamos o melhor resultado para o país”, disse, deixando subentendidas negociações longas e árduas.

Em Frankfurt, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, manifestou “profunda preocupação” quanto à governânça econômica e orçamentária da zona do euro. “Precisamos de uma mudança”, lançou, com a finalidade de evitar uma outra edição da crise atual, sem, no entanto, citar a Irlanda.

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